segunda-feira, 28 de abril de 2025

MEIA DÚZIA DE GOLOS DERAM À LUZ



Totalmente virados para frente, mesmo marcando por seis vezes os encarnados acabaram por fazer a festa ‘barata’ ao Aves, que se compactou no segundo tempo, à espera que o tsunami passasse.
Quando estavam decorridos 15 segundos de jogo, e a equipa da Vila das Aves aproveitou uma hesitação entre António Silva e Trubin para levar perigo à baliza encarnada, pensou-se que poderia haver um prélio tão equilibrado quanto a desproporção orçamental entre os dois emblemas permitisse, ou não estivesse a memória dos benfiquistas ainda fresca com o balde de água fria que lhes caiu em cima no final da partida com o Arouca. Porém, esse lance foi a tal andorinha que não faz a primavera, e de imediato a equipa da casa pegou nas rédeas do jogo e começou a adivinhar-se que as redes à guarda do mítico Guillermo Ochoa (vai para o sexto Mundial, pelo México) não se manteriam por muito tempo invioladas. Dito e feito: depois de um primeiro aviso de Akturkoglu (4 minutos), que viu um golo anulado por um offside de oito centímetros de Dahl, foi preciso esperar apenas mais quatro minutos para Tomás Araújo colocar o Benfica na frente e dar início a um vendaval atacante para o qual os forasteiros não encontravam resposta.




Rui Ferreira armou a sua equipa num 4x3x3 que com facilidade passava a 5x4x1, mas a forma como quis começar a defender, demasiado à frente, e a atacar, demasiado atrás, deu ao Benfica os espaços entre linhas que acabaram por tornar-se em verdadeiras alamedas que desembocavam na baliza de Ochoa.
Mas, sem Florentino, que tática usou Bruno Lage para este jogo em que além da vitória precisava de golos que equilibrassem essa conta particular com o Sporting? A resposta é... muitas, porque as dinâmicas aplicadas alteraram sucessivamente o ponto de partida, que foi um 4x4x2, com Aursnes e Kokçu, no duplo pivot, Dahl na esquerda e Amdouni na direita, colocando-se Akturkoglu perto de Pavlidis. Porém, a partir daí houve 4x3x3 quando Dahl se juntava a Aursnes e Kokçu, descaindo Akturkoglu para a esquerda; 4x2x4 quando os alas abriam bem e se colocavam na linha dos pontas-de-lança; 4x2x3x1 quando Akturkoglu deixava Pavlidis na frente e passava a atuar decididamente nas suas costas, na mesma linha de Amdouni e Dahl; e 3x4x3, quando Carreras e Amdouni faziam os flancos, juntando-se no meio da defesa Tomás Araújo, António Silva e Otamendi. É quando a dinâmica, como sucedeu, permite levar a plasticidade de uma equipa a níveis elevados que se criam condições para exibições que confundem o adversário e encantam as plateias. Foi isso o que aconteceu com o Benfica, que acabou a primeira parte a vencer por 4-0, ficando-se a dever outros tantos golos.




Na retina, obrigatoriamente, ficou o segundo golo, de Pavlidis, numa jogada de pelada, com cheiro a futebol de rua, mas com muito laboratório pelo meio, em que, após um canto da direita, a bola foi de Dahl para Akturkoglu, deste para o compatriota Kokçu, que voltou a endossá-la a Dahl, que serviu em bandeja de ouro o goleador grego para uma finalização simples. Estavam jogados 23 minutos e esse momento inspirou o Benfica para minutos de futebol-arte, em que Amdouni e Akturkoglu também faturaram, graças a uma atitude coletiva muitíssimo interessante.
AVES CORRIGE BEM
Ao intervalo, deve ter passado pela cabeça do técnico avense a vitória do Benfica de Lage sobre o Nacional de Costinha por 10-0, e tratou de alterar processos, essencialmente para contenção de danos. Passou, com as entradas de Piazon, bom de bola, para o miolo, Tomás Tavares para a direita da defesa e Eric Veiga para a esquerda, a um modelo que só em tese era 4x3x3 e na prática foi cada vez mais um 4x5x1, com uma suprema diferença relativamente à primeira parte: a equipa baixou linhas e ao mesmo tempo compactou-as, retirando espaço ao Benfica, que durante os primeiros 20 minutos baixou em intensidade. Bruno Lage começou a reagir aos 67 minutos, quando tirou Carreras (amarelado, falha o Estoril) e passou Dahl para o lugar ocupado pelo espanhol, e mandou a jogo Schjelderup e Belotti, que se foi juntar a Pavlidis.




Aí sim, o Benfica assumiu o 4x4x2/4x2x4 e criou fissuras importantes na muralha avense. Cinco minutos depois das trocas, o galo Belotti chegou à manita, e quando, aos 77 minutos, a equipa encarnada foi refrescada com Arthur Cabral, Prestianni e Barreiro, o Aves passou a ter como único desejo que o jogo acabasse. O Benfica ainda fez mais um golo, por Otamendi (82), ameaçou o sétimo, por duas vezes, por Prestianni, e terá ficado atónito quando viu o árbitro dar apenas dois minutos de compensação, claramente insuficientes para o que tinha acontecido na segunda parte, sabendo-se que o campeão nacional de 2024/25 pode vir a ser encontrado na diferença entre os golos marcados e sofridos por Sporting e Benfica.
Nota final para a exibição de Akturkoglu, que desempenhou várias funções com elevada competência, assistiu, marcou e defendeu, tornando-se provavelmente na peça mais relevante da plasticidade com que o Benfica de Bruno Lage se apresentou na Luz.
DESTAQUES DO BENFICA:
Akturkoglu comandou as operações de uma águia enfeitiçada pelo golo. Pavlidis e Dahl também em destaque, numa tarde sem más exibições do lado encarnado.
O MELHOR EM CAMPO: AKTURKOGLU (7)
É conhecido por Harry Potter e de facto tira, de quando em vez, uns truques de magia do bolso. Mas não é essa a principal mais-valia que traz a este Benfica. O que faz dele cada vez mais imprescindível para Bruno Lage é a capacidade de aparecer constantemente em jogo, oferecendo soluções para os colegas na transição defesa-ataque, seja em velocidade (que no caso deste turco não é brincadeira) seja a receber a bola de costas para a baliza e a ter noção dos passos que devem seguir-se. Jogou encostado a Pavlidis no 4x4x2 do Benfica, tendo depois feito uns minutos na esquerda entre a saída de Carreras (recuo de Dahl) e a sua própria substituição. Marcou aos 4 minutos mas não valeu (fora de jogo prévio de Dahl), marcou o 4-0 aos 40 e valeu, assistiu Belotti para o 5-0. Bela tarde.
6 Trubin — Não fossem uma saída oportuna aos pé de Zé Luís, já na segunda parte, e uma bela defesa a remate do mesmo adversário, aos 64 minutos, e dir-se-ia que teve direito a duas folgas depois da portentosa exibição de Guimarães. Para a Taça não jogou, este domingo esteve mais de 90 minutos a ver jogar. Mas lá está: na hora de agir, estava lá, é assim que deve ser a vida dos guarda-redes das grandes equipas.




6 Tomás Araújo — Estreou-se a marcar esta época logo aos 8 minutos, numa oportuna recarga a cabeceamento de António Silva após canto. Defensivamente teve muito pouco trabalho, e quando Mercado se afoitou mais pela asa esquerda do Aves, no início da segunda parte, controlou tudo com sobriedade. Saiu aos 77 minutos, ele que anda em gestão de esforço.
6 António Silva — No primeiro lance do jogo teve um ligeiro desentendimento com Trubin, nada de grave. Segurança a toda a prova (perante muito pouco trabalho de base, refira-se) e participação importante nas bolas paradas, com cabeceamento defendido por Ochoa que deu recarga de Tomás Araújo para o primeiro golo e cruzamento para Otamendi no último. Reencontrou-se.
6 Otamendi — Um corte ou outro para se recordar que é defesa, a liderança do costume a partir de trás e mais um golo na Liga, o sexto, que cimenta o posto de defesa com mais golos na competição.
6 Carreras — Menos exuberante que noutras ocasiões, mas ação permanentemente importante sobre uma das que poderiam ser as ameaças do Aves, Tunde. O nigeriano bem tentou, mas Carreras colocou-no no bolso com autoridade, sobretudo quando tentatava usar a principal arma, que é a velocidade. Aos 65 minutos teve uma entrada mais dura, faz de conta que ninguém percebeu que limpou uma série de cartões amarelos e assim estará certamente apto para a receção ao Sporting.
6 Amdouni — Apareceu muitas vezes a preceito pela direita, sempre mexido e a gostar de ter a bola. Muito boa execução no lance do 3-0. Mostrou que pode perfeitamente ser alternativa nesta fase final e decisiva do campeonato.




6 Aursnes — Dá ideia de que não sabe jogar mal. Omnipresente no jogo encarnado, mais à frente ou mais atrás, jogue no meio (como em quase toda partida) jogue a lateral direito (como depois de sair Tomás Araújo). Excelente abertura para Pavilidis oferecer o 4-0 a Akturkoglu e remate a rasar ao poste, já no período de compensação.
6 Kokçu — Mais um jogo assertivo. Joga com grande critério, marca ritmos e sente-se confortável a jogar longo ou curto. Marcou o livre do qual resultaria o último golo do banquete encarnado. Aos 34 minutos exagerou nos protestos e arriscou cartão, que nem sequer seria para completar uma série e cumprir castigo.
7 Dahl — O lateral esquerdo que já foi lateral direito foi, este domingo, médio esquerdo... e muito bem. Assistiu para os segundo e terceiro golos e ainda esteve envolvido na jogada do quinto. Aos 53 minutos quase tinha o seu momento de fama, mas o remate foi bloqueado por Ochoa. Terminou a lateral (uff...) após a saída de Carreras.
7 Pavlidis — Mais um jogão do grego. Marca, dá a marcar, atira à barra, é por esta altura peixe na água na estratégia encarnada. Imprescindível.
5 Schjelderup — Boa entrada do norueguês, que começou na direita e terminou na esquerda. Sem medo de transportar a bola, cabeça levantada, serenidade na decisão.
6 Belotti — Entrou cheio de vontade. Tanta que iniciou e concluiu a jogada do 5-0, numa altura em que o jogo vinha meio adormecido desde o intervalo. Terá sido o único jogador do Benfica a cometer mais que uma falta, o que demonstra as ganas.
5 Arthur Cabral — Entrada assertiva, embora sem resultados práticos. Ajudou a manter o jogo sempre mais perto do aprofundar da goleada que de uma reação avense.
5 Leandro Barreiro — Discreto no cumprimento das funções que tinham sido de Aursnes, transportado para lateral-direito no último quarto de hora.
5 Prestianni — Teve tempo para três ou quatro pormenores demonstrativos da qualidade que possui. Mais cedo ou mais tarde este menino vai aparecer.

Sem comentários:

Enviar um comentário