domingo, 13 de abril de 2025

UM NOBRE CINISMO, A RASTEIRA COM A CABEÇA



O Benfica empatou com o Arouca num jogo que teve várias caras, muito Arouca, um lance polémico que foi decisivo para o resultado e um Benfica que também lutou contra ele próprio, claramente dividido entre a necessidade de não se precipitar e, a determinada altura, a urgência de chegar ao golo.
Este estado de espírito terá talvez levado a equipa encarnada a entrar em campo com uma personalidade ligeiramente diferente da dos últimos desafios, menos intensa na pressão alta e menos agressiva na tentativa de desbloquear problemas, o que foi dando alguma confiança ao adversário para trocar a bola e aos poucos ir conquistando metros no relvado.
É verdade que o Benfica desde o início namorou o golo, mas de forma muito paciente, à luz das velas, sem querer ser muito brusco nas investidas para não levar uma tampa neste date. À mesa, porém, sentou-se um Arouca com quem foi muito difícil flertar, que apresentou as linhas dos seus jogadores muito juntas e determinado a fazer a vida difícil aos encarnados, o que conseguiu durante quase todo o desafio.




A equipa de Bruno Lage tinha mais bola e também ia criando boas oportunidades para marcar. Akturkoglu rematou aos 12', Tomás Araújo fez o mesmo de cabeça aos 15' e Pavlidis aos 16', mas a bola bateu sempre nas pernas ou na cabeça dos defesas e nunca levou a direção da baliza do guarda-redes alemão Nico Mantl. Ao Benfica ia faltando alguma eletricidade na abordagem e sobrava paciência. Rondava o golo, mas com pouca determinação e poucas ideias para colocar a bola em zona de finalização. Dominava, mas sem sensação completa de controlo.
O Arouca rematou pela primeira vez aos 19' e logo com perigo, num grande tiro de Sylla e muito boa defesa de Trubin. Um minuto depois, Jason cruzou na perfeição para a cabeça de Trezza, mas o urguaio fez a bola sair tresloucada por cima da baliza do Benfica. Os visitantes ganharam, nesta altura, mais bola e o mérito de conseguir manter o Benfica em tensão.
Um belo trabalho de Pavlidis na área do Arouca e remate do grego ao poste, e logo a seguir um remate de Di María por cima da trave, prometeram uma história diferente para a segunda parte. Mas não foi aquela que os adeptos benfiquistas gostariam.
O Benfica regressou do intervalo de olhos mais arregalados para o golo e a baliza do adversário, mas foi o Arouca que deu os primeiros sinais de perigo, obrigando Trubin a aplicar-se para defender remates de Helçin e Trezza. A sensação de que as coisas não lhe estavam a correr bem e poderiam acabar pior tornou o Benfica mais ansioso. O ambiente na Luz também.




Aos 60', o Arouca finalmente cedeu, incapaz de travar uma jogada fenomenal de Carreras e depois um remate magistral de Kokçu. As águias respiraram fundo e logo se viu a onda vermelha que se vinha formando nas 9 vitórias consecutivas nos últimos jogos de campeonato, com Akturkoglu e Di María a não conseguirem aproveitar chances para marcar no mesmo minuto, o 62'.
O Arouca tremeu. Mas um penálti fantasma assinalado por suposta falta de Otamendi sobre Jason devolveu-lhe a estabilidade e o empate.
Lançou-se o Benfica novamente de cabeça ao golo, já com as velas apagadas e ligado à corrente. Pavlidis marcou, outros poderiam também, Schjelderup acertou nas redes mas foi marcado fora de jogo. A finalizar o jogo, a equipa desequilibrou-se e Weverson congelou a águia com novo empate. O Benfica volta a estar de mão dada com o Sporting na liderança.
DESTAQUES DO BENFICA
Turco está em alta, voltou a marcar com nota artística e cruzou para o 2-1 encarnado. Pavlidis tentou muito... e conseguiu. Erro repartido custou dois pontos quase no final do jogo.
O melhor em campo: Kokçu (7)
Passa por um bom momento, já não há dúvidas. Foi o jogador mais esclarecido durante toda a primeira parte, assinando por baixo em vários lances que ajudaram a criar as oportunidades do Benfica. A facilidade do passe ao primeiro ou ao segundo toque, invetando desequilíbrios nas defesas contrárias, faz dele um médio muito influente. Além disso, sabe-se que tem uma capacidade de remate de meia distância muito interessante. Aursnes, por exemplo, sabe-o bem e por isso ofereceu-lhe a bola com mel, depois da espantosa jogada de Carreras, para um golo de belo efeito à entrada da área. Fica ainda ligado ao segundo golo encarnado, encontrando Pavlidis sozinho ao segundo poste após canto curto e rápido e tabela com Akturkoglu. Merecia a vitória, acabou 'traído' pela distração coletiva final.




7 Trubin — Exibição imaculada numa daquelas tardes difíceis em que um guarda-redes passa muito tempo a ver jogar lá longe e de quando em vez é chamado a intervir. Teve três excelentes intervenções (19, 47 e 51 minutos) e nada poderia ter feito nos golos sofridos, um de penálti e outro à boca da pequena área.
5 Tomás Araújo — Na primeira parte mostrou-se afoito pela direita e aos sete minutos quase marcava, de cabeça, na sequência de um dos inúmeros cantos conquistados pelos encarnados na fase inicial da partida. Perdeu atrevimento na segunda parte, também por força do crescimento do Arouca. Defensivamente regular.
6 António Silva — Volta, paulatinamente, a demonstrar a segurança que se lhe (re)conhece, depois de ter passado uma fase menos boa. Aqui e ali ainda denota dificuldade no passe, mas no trabalho defensivo esteve praticamente intransponível nas marcações, nos cortes, nas interceções e nas dobras aos companheiros de setor.
5 Otamendi — Esteve mais hesitante do que é costume, o que pagou com custos elevados no segundo golo, jogada na qual não teve reação suficientemente rápida para impedir a entrada de Dylan na área e o posterior cruzamento para Weverson. Está ligado ao lance mais polémico do jogo, com o árbitro António Nobre a considerar que cometeu penálti sobre Jason aos 67 minutos.
6 Carreras — É claramente um dos melhores executantes da Liga. Impressiona pela técnica e pela capacidade de galgar campo fora, sempre com a bola bem guardada. Fê-lo de forma exímia quando, aos 60 minutos, parecia ter descoberto a chave para desbloquear o jogo. Que jogada pela esquerda a que culminou no golo de Kokçu! Pena, para a nota global, ter-se distraído no 2-2, não conseguindo, a meias com Otamendi, fechar o espaço onde Alex Pinto descobriu Dylan.
6 Aursnes — Integrou o tridente do meio-campo mas, quando o Arouca saía a jogar, saltava na pressão alta juntamente com Pavlidis. É muito criterioso no futebol que joga. Serviu Kokçu, com um pequeno toque, para o primeiro golo e ofereceu ao compatriota Schjelderup o que teria sido o 3-1, não estivesse o companheiro em posição irregular. Imprescindível neste Benfica.
5 Florentino — A ocupação dos espaços e as consecutivas compensações no meio-campo defensivo são as maiores armas de Florentino, que por isso mesmo tem ganho espaço nas escolhas de Bruno Lage. A presença dele liberta os companheiros. Mas continua a mostrar algumas dificuldades no passe e, tal como já sucedera noutras ocasiões, foi uma vez mais desarmado por detrás por um adversário quando tentava sair a jogar.
5 Di María — Não sabe jogar mal, acaba inevitavelmente, aqui e ali, por sobressair pela enorme qualidade, mas tem dias melhores que outros. Este domingo não foi um dos melhores, claramente. Não esteve sempre ligado ao jogo da equipa.
7 Pavlidis — Além das soluções que oferece amiúde aos colegas de equipa, tentou que se fartou no capítulo da finalização. Um lance foi salvo em cima da linha, outro (após brilhante pormenor individual) pelo poste, outro só parou no fundo das redes, outros saíram menos bem, mas Pavlidis não leva para casa uma gota de suor.
5 Akturkoglu — Menos influente do que tem sido habitual, nem sempre tomou as melhores decisões no ataque encarnado. Esforçado, como é seu timbre, ainda fez a Luz gritar GOLO com um livre que saiu à malha lateral (83 minutos).
4 Schjelderup — Entrou para a esquerda e parecia bem embalado. Aos 84 minutos quase marcava de bico, aos 85 marcou mesmo mas partiu de posição irregular e no lance do 2-2 é o primeiro réu, já que não pressionou a saída do lateral-direito arouquense, Alex Pinto.
5 Belotti — Mostrou-se ao jogo, continuando o bom trabalho de Pavlidis.
— Bruma — Mal tocou na bola.
5 Leandro Barreiro — Esteve muito ativo na fase em que o Benfica já vencia e ninguém pensava que o Arouca viria a empatar.
— Arthur Cabral — Entrou para ouvir o apito final, já depois do balde de água gelada.

Sem comentários:

Enviar um comentário