Do pré-jogo ao plano bem elaborado e explicado diante do Bayern; vitória reforça a imagem de uma equipa que age melhor em modo reativo que proativo.
Foi, ao contrário de outras ocasiões, uma vitória do Benfica que começou na véspera. Ou melhor, horas antes, na conferência de imprensa de lançamento do jogo do seu treinador. Munido da cábula para não se esquecer das expressões certas que queria passar para o exterior, Bruno Lage usou por diversas vezes a palavra agressividade e definiu as linhas mestras que pretende para a próxima época. Naqueles minutos em que falou aos jornalistas, já de madrugada em Portugal, o técnico das águias enviou vários recados. Que é ele quem estará no banco (pelo menos até às eleições de outubro) e é ele quem define o perfil dos reforços (o lateral-direito já contratado e um ala que dê a tal agressividade ao corredor, depreendendo-se daqui que o substituto de Di María terá características bem diferentes do internacional argentino que procura fazer do Mundial de Clubes a saída do Benfica pela porta grande em contraste com as lágrimas vertidas na final da Taça de Portugal perdida para o Sporting).
Nada disto teria importância se o Benfica tivesse sido vergado pelo Bayern, só que a forma organizada, agressiva e inteligente como os encarnados interpretaram o jogo e o adversário na primeira parte mostrou que a mensagem do treinador passou. Claro que o resultado ajuda, mas mais importante é o processo que se extrai e esse ninguém pode colocá-lo em causa, principalmente quando se ouve uma explicação para o onze que, confesso, já não ouvia há muitos anos, quando se dizia que no futebol português faltavam os últimos 30 metros e 30 centímetros de estatura. Disse Bruno Lage que a colocação de Prestianni e Schjelderup na mesma estrutura que tinha Di María e Aursnes era uma forma de contrariar as armas que o Benfica não tem: a altura e força física dos alemães contra a baixa estatura e consequente capacidade de ter mais tempo a bola por parte dos encarnados (por acaso nenhum dos referenciados é português).
No plano teórico fazia sentido e mais sentido fez logo nos primeiros 10 minutos, com um dinamismo que há muito não se via. Na verdade, correu tudo bem a Lage: o plano saiu na perfeição, a titularidade de jogadores menos utilizados no Bayern tornou a equipa bávara menos poderosa (sem que isto retire uma décima ao mérito do Benfica) e depois do golo as águias jogaram como muitas vezes gostam: de trás para a frente, em transições (e com um monstro na baliza e outros dois no centro da defesa).
O jogo com o Bayern serviu, aliás, para reforçar a imagem que se foi criando do Benfica de Lage: é uma equipa que resulta muito bem em modo reação, seja dentro do próprio jogo (em partidas com os da sua igualha ou melhores, entenda-se) ou fora dele, mas em contexto competitivo; uma equipa acossada quando vê que os outros estão à frente (no marcador ou na classificação), mas que quebra quando tem de assumir a sua grandeza logo à cabeça, seja na incapacidade de manter uma liderança que tanto trabalho deu para conquistar (foi assim na Liga) ou na primeira parte oferecida ao Boca Juniors no arranque da competição.
O grande desafio que Lage continua a ter pela frente é este: o de provar que é efetivamente um treinador proativo e não apenas reativo. A forma como respondeu a Kokçu em nada ajuda a mudar de ideias, mas o modo como conquistou um triunfo histórico diante do Bayern coloca-o mais agarrado a um lugar que queima sempre, ainda mais em período pré-eleitoral.
Fernando Urbano, in a Bola

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