quarta-feira, 30 de julho de 2025

BENFICA: NOVA VÉNIA

 


Na Luz, aconteceu um reinício de alegria e muitos adeptos, na tradicional e sempre desejada apresentação da equipa. A entrada dos jogadores pelo meio dos benfiquistas penso ser algo que se deve manter, tal o bonito efeito que representa. Mais uma vénia simbólica a quem acompanha o clube.

Viveu-se um ambiente saudável de muitas famílias que vêm ao estádio, algumas que aproveitam o regresso em período de férias. As expectativas habituais para ver quem chega e de quem só se conhece o nome. A habitual dedicação dos adeptos no início de mais uma época de esperanças renovadas.
Uma boa atmosfera inspira quem joga e a primeira parte correspondeu, sendo bem prometedora. Destaque para os estreantes, principalmente para a dinâmica ofensiva de Dedic. Ríos e Enzo mostraram o porquê da escolha, mesmo sem conseguirem impressionar na estreia. Dos repetentes, Pavlidis e Akturkoglu regressaram bem, mas foi o jovem Veloso, promovido a titular, quem mais surpreendeu. Uma opção a ter em conta depois desta eleição inesperada. No final, ganhar sabe sempre bem e a participação rara de todos os jovens convocados assinalou mais um dia especial.
Festa feita, o Benfica enfrenta agora verdadeiros e exigentes desafios. O tempo é escasso e o descanso é pouco, para tanta exigência, mas o sinal positivo está dado.
VALOR REAL
Akturkoglu a marcar e a festejar foi uma boa notícia, quando ainda se colocam outros cenários. Espero que fique. Não impressiona esteticamente, mas é muito completo. É agressivo na desmarcação vertical e conclusão dos lances, mas igualmente regular e combativo quando toca a defender. Um avançado esquerdo e não propriamente um ala típico, de drible e confronto direto. Julgo que Akturkoglu vale mais no campo do que em qualquer eventual negócio. É discreto, mas sólido e de grande utilidade, sem o perfil vistoso que impressiona os grandes mercados.
PRIMEIRO POSTE
Não pela sua intervenção na vitória da Eusébio Cup, mantenho expectativas positivas em Henrique Araújo. A verdade é que continuamos a ter por cá poucos avançados de qualidade. As chamadas promessas, de acordo com as suas posições no terreno, conseguem ser ou seguras na defesa, ou esconder-se no esforço a meio campo. Lá na frente, o peso é diferente, a visibilidade também e há normalmente números a cumprir, jogos a decidir. O Henrique está só com 23 anos, os mesmos que eu tinha quando me estreei na nossa Liga, ainda no Portimonense. Fez sete golos no Arouca, na época passada, curiosamente os mesmos que eu consegui nesse meu ano de estreia. Não o conheço enquanto pessoa, mas aquilo que mostra enquanto avançado dá conta de alguém de quem se pode esperar mais. Já sabemos que as caraterísticas que fazem uma carreira de sucesso não se resumem às valências técnicas ou físicas. Como sempre, serão a mentalidade, a persistência, a humildade, mas também a sorte a decidir o que virá depois.
O golo com o Fenerbahçe define uma qualidade importante: a agressividade e o timing de ataque ao primeiro poste. Não era algo em que eu fosse especialmente forte. Pavlidis tem essa virtude e, no meu tempo, havia Nené, Gomes, Manuel Fernandes e outros que o faziam bem. Este movimento de ataque à bola, mesmo que não permita o desvio direto para baliza, provoca o arrastamento da defesa adversária e a criação de espaços que se aproveitam mais atrás.
MERCADO
No Benfica, esperam-se mais argumentos para este complicado início de temporada. A lesão de Bruma e o desvio de Félix acentuam a procura. Um avançado parece obrigatório, pelo menos enquanto Henrique Araújo não se emancipa. Nas alas, embora se abra espaço para Prestianni e Gouveia, poderá ser necessário algo mais. Lá atrás, a condição física de Tomás Araújo poderá ditar um eventual reforço.
Na concorrência, de Gyokeres já muito se disse. O seu sucessor terá a missão quase impossível de o fazer esquecer, enquanto os adversários suspiram de alívio com a partida de um verdadeiro incómodo. Quanto ao FC Porto, investe e reforça-se. Um central experiente era obrigatório conseguir. Na lateral direita, embora aprecie Alberto Costa, o FC Porto mexe na posição que me parecia a mais forte, mantendo ainda Martim Fernandes. Não era prioridade, terá sido uma oportunidade de mercado.
MENOS CARREIRA
Um caso estranho este de Félix. Muito talento, todos o sabem, sem rendimento. A opção pela Arábia é muito discutível, imagino que definida pelos valores que o Chelsea recupera e muito pela influência de quem negoceia. Ainda mais dinheiro, mas ainda menos carreira. Adiada fica, mais uma vez, a sua retoma competitiva e, eventualmente, colocada em causa a sua futura convocatória para a Seleção. A fuga da Europa não me parece a melhor solução. Mais milhão, menos milhão, não será isso que o fará mais feliz ou realizado. Uma honra, sim, jogar com Cristiano Ronaldo, mas também há a obrigatoriedade de um maior esforço quando toca a defender. Não sendo dado a grandes correrias, imagino que vá estranhar, mas pode ser que lhe faça bem. Uma equipa pode ser equilibrada de maneira a poupar um dos seus jogadores. Dois é demais.
LENDAS, MAS NÃO MUITO
Sucedem-se os eventos desportivos a que os antigos jogadores naturalmente aderem, acredito que não tanto pelo que ganham, mas pelas saudades que muitos têm de uma atividade marcante. No entanto, quando se intitula um torneio de Legends eleva-se o nível de um produto onde o fair play e as boas práticas estão teoricamente garantidas. Sabemos que a malta não gosta de perder nem a feijões, mas há limites. Cuidar do espetáculo é dar uma boa imagem. Uma vez sarrafeiro, sarrafeiro para sempre? Não se justifica e ninguém aprecia.
Rui Águas, in a Bola

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