quinta-feira, 21 de agosto de 2025

UM EMPATE SIMPÁTICO EM ISTAMBUL...



Benfica de Bruno Lage sai da Turquia de pé, mas com muita sorte e depois de alguns 'vícios' do passado
ISTAMBUL — O jogo ainda não tinha começado e parecia que o Benfica já estava a perder e não apenas por causa do ambiente apaixonante. Bruno Lage mexeu na equipa que tinha ganho três partidas consecutivas, deixando Ivanovic, Schjelderup e o 4x4x2 no banco, e recuperando para a titularidade o velho 4x3x3 da temporada passada. Florentino jogava entre Barrenechea e Richard Ríos e Akturkoglu estava na esquerda.
Parecia que tinha tomado uma decisão política, Akturkoglu, e uma mais defensiva. Parecia que estava a introduzir cautela na equipa.




O turco, depois de falhado o entendimento para a transferência em plena Turquia, em plena Istambul, em pleno estádio do Fenerbahçe, aparecia para acertar contas, já Florentino, que fez 26 anos esta terça-feira, tinha como prenda a possibilidade de reeditar a estreia internacional de 2019, quando ajudou o Benfica a vencer pela primeira vez na Turquia, precisamente diante do Galatasaray, com Lage no banco.
Os adeptos do Benfica ainda matutavam nestas incertezas quando Richard Ríos meteu gelo nos turcos e confiança na cabeça dos benfiquistas, disparando de fora da área e obrigando Egribayat a sujar o equipamento. Aos 10 minutos, porém, o Benfica já defendia com linha de 5, pois Aursnes voltava ser lateral-direito.
Akturkoglu, porém, estava com ideias e começou a forçar a influência no jogo. Não começou bem, pois aos 14' um disparo torto até motivou gargalhadas na bancada, mas teve a vantagem de parar a assobiadela monstra que acompanhava cada posse de bola do Benfica.
As coisas estavam calmas, a equipa de José Mourinho queria mandar, mas não conseguia, o mais perigoso até era o Benfica, que aos 29', de livre direto, bem ensaiado entre Ríos e Akturkoglu, quase tinha sucesso. Remate do turco e bela defesa de Egribayat.




Os últimos 15 minutos da primeira parte foram turcos. Cresceram, começaram por ameaçar timidamente por Szymanski e En-Nesyri, mas o disparo de Oosterwolde nada teve de tímido. Trubin teve de voar para afastar a bola, a grande ocasião dos primeiros 45 minutos. O Benfica pedia intervalo e teve intervalo.
Início da segunda parte, mais do mesmo. O Benfica continuava a precisar de intervalo, mas o domínio turco não se traduzia em oportunidades. O Benfica acordou aos 61', Aursnes foi o despertador com cruzamento em zona perigosa, mas só ganhou um canto.
Akturkoglu e Pavlidis continuavam a ser pouco para tantas pernas turcas e Ivanovic saltou mesmo do banco. Ivanovic e o 4x4x2, deixando o relvado Barrenechea, já amarelado. Mourinho, sem hesitações, respondia com Talisca, esse mesmo. Quem não Talisca, não petisca.
Florentino, enganado facilmente pelo brasileiro, foi expulso aos 71', segundo amarelo, confirmando as debilidades do costume. Muitas faltas, por vezes alguma falta de discernimento. O primeiro amarelo ainda estava fresco.
O Benfica acusou a redução a 10 jogadores... jogando melhor, subindo no terreno, enervando o Fenerbahçe. Akturkoglu saía e era cumprimentado por Mourinho. A sorte batia à porta do Benfica, Talisca disparou, Trubin deixou escapar para a trave, En-Nesyri marcou de cabeça na recarga, mas havia fora de jogo. Depois de ter dito que José Mourinho era o melhor treinador de Setúbal «e arredores», o Benfica conseguia empate simpático em Istambul... e arredores. Muita sorte da águia, estrelinha de Champions?
DESTAQUES DO BENFIC:
O Benfica atacou pouco e nem sempre bem. Houve o remate perigoso de Ríos logo a abrir o jogo e, até ser substituído, a melhor águia foi o homem que esteve com um pé no Fenerbahçe e que, afinal, está com os dois no Benfica...
O MELHOR EM CAMPO: Akturkoglu (7)
Defrontar a sua (ex?) futura equipa não foi cómodo, de facto, como José Mourinho sugeriu antes do jogo. E logo, talvez surpresa das surpresas, como titular e sempre perante quase infinitos assobios vindos das bancadas. Porém, o 7 da Luz entrou em campo como se estivesse a jogar em casa e com tampões nos ouvidos. Rematou, fez diagonais, cruzou e executou livres perigosos. Pareceu quase sempre ser o homem mais perigoso do Benfica, a partir da esquerda para o meio e tentando, rematando ou cruzando, que o golo chegasse. Não chegou. Mas a culpa não foi de Kerem, como os treinadores gostam de lhe chamar. Se José Mourinho, como Bruno Lage disse, é o melhor treinador de Setúbal e arredores, Akturkoglu foi o melhor de Istambul e arredores...
Trubin (4) – E vão cinco jogos sem sofrer golos: 450 minutos. Sporting, Nice, Nice, Estrela da Amadora, Fenerbahçe. Mas esteve a centímetros de sofrer o primeiro, após péssima abordagem a remate de Talisca, que levou a bola à barra, com En-Nesyri a marcar de cabeça. Valeu ao ucraniano que o marroquino estava em fora de jogo. De início, na primeira meia hora, Trubin bem poderia pensar: ‘Mas isto é que é um inferno?!’ Não era. Porém, entre os 34’ e os 45’, terá mudado de perceção, sendo obrigado a três defesas, a última das quais bem apertada, desviando para canto potente remate de Oosterwolde. Sem mácula até ao minuto 81. Quando En-Nesyri marcou, embora de forma irregular.
Dedic (7) – Está a ser um muito bom up-grade de Alexander Bah. Ataca bem, defende bem e nunca vira a cara à luta e ao esforço. Além disso, parece estar no Benfica há muitos anos, tal a forma como assimilou a cultura e, sobretudo, a forma de pensar e jogar da defesa encarnada.
António Silva (7) – Talvez não esperasse jogo tão calmo até ao intervalo. Perigoso desvio de cabeça ao minuto 40, após canto de Aursnes, na direita. Muito mais trabalho na segunda parte, quando se tornou numa espécie de 112 da defesa encarnada, indo à direita e à esquerda, à frente e atrás.
Otamendi (6) – Entrou bem, quer a proteger a baliza de Trubin, quer a tentar atacar a de Egribayat. Baixou de rendimento no segundo tempo, ainda mais a partir da expulsão de Florentino, crescendo aí a figura de António Silva. Muitas dificuldades perante a velocidade e impetuosidade de Talisca.
Dahl (6) – Para já, como maior argumento do bom arranque do sueco, eis a verdade: não se deu ainda pela saída de Carreras. Criou perigo meia dúzia de vezes a atacar a profundidade e a cruzar para a área e, a defender, não errou.
Richard Ríos (5) – Entrou de pé esquerdo bem afinado e logo aos 2, após receber passe de Pavlidis, rematou fortíssimo, obrigando Egribayat a defesa apertada. Porém, pelo tempo fora, não deu o salto para superior rendimento, nem sequer para se tornar importante no meio-campo encarnado.
Florentino Luís (4) – Dois amarelos em dois minutos e consequente vermelho deixaram o Benfica com 10 durante mais de 20 minutos. Começou por ter luta indomável com Fred, sobretudo nos primeiros 20 minutos, mas o brasileiro alterou a rota por onde jogava e deixou de andar perto do 14 da Luz. Pouco depois da meia hora, Florentino tentou repetir o golo de Nice, mas o remate saiu muito por alto. Demasiado ingénuo ao ver dois cartões amarelos em apenas dois minutos.
Barrenechea (6) – Tem sido um dos mais interessantes jogadores do Benfica neste início de época e, na primeira fase do jogo, quando soube rodar a bola quase como ninguém, parecia ir disparar para exibição de altíssimo nível. Viu um cartão amarelo ao minuto 21 e, fosse ou não por esse motivo, não mais deu sinais de poder manter a bitola inicial.
Aursnes (6) – Quarto médio ou terceiro avançado? O norueguês acumulou as duas funções. E, por vezes, até era quinto defesa, ajudando Dedic a fechar o lado direito em momentos de maior pressão turca. O ponto alto do primeiro tempo foi a entrada pela direita, cruzando rasteiro para a ligação Pavlidis-Ríos, que permitiu ao colombiano remate colocado para defesa do guarda-redes. Manteve ao longo dos 90 minutos a rotação inicial, mas sem o perigo desse lance a abrir o jogo.
Pavlidis (6) – Jogo muito ingrato. Não teve, deste vez, a companhia de Ivanovic e, assim, passou demasiado tempo sozinho na frente. Poucas bolas, poucas possibilidades de criar perigo junto de Egribayat. Maximizou o esforço e o jogo coletivo, funcionando algumas vezes como homem do último passe. Ponto alto foi o toque subtil logo para o tiro de Ríos, logo a abrir o jogo.
Ivanovic (5) – Bom remate pouco depois de entrar, espontâneo, mas meio metro ao lado. Porém, logo a seguir, Florentino Luís foi expulso e o rendimento do croata não atingiu, decerto, o patamar que Bruno Lage pretendia quando o colocou em campo.
Leandro Barreiro (5) – Entrou para ajudar a fechar o meio-campo quando Florentino foi expulso. Não deu nas vistas.
Tiago Gouveia (5) – Substituiu Pavlidis para, sem Florentino, tapar o meio-campo do Benfica.

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