sexta-feira, 31 de outubro de 2025

AS CONCLUSÕES PRECIPITADAS DAS ELEIÇÕES DO BENFICA



É apenas certo que Rui Costa e Noronha Lopes foram os mais votados a 25 de outubro e que a 8 de novembro começa tudo do zero. O mais que se disser pode ser manifestamente exagerado.
A esmagadora afluência dos sócios do Benfica nas eleições de 25 de outubro não produziu já um presidente. É, para começar e de uma forma simples, até por tratar-se de assunto que justificaria reflexão maior, um testemunho do interesse massivo num clube que está mais vivo que frágil ou moribundo (como muitas pessoas, dentro e fora do universo encarnado, se esforçaram por defender), de um clube com raízes tão profundas como ímpares na sociedade portuguesa, sem desprimor ou menosprezo por qualquer outro. O recorde internacional de número de votantes nas eleições de um clube desportivo —mais de 85 mil sócios — justificaria, até, uma análise complexa, para a qual nem sequer me sinto habilitado a arriscar.
É, neste momento, apenas certo — para lá desse grande momento de benfiquismo e de civilidade, em circunstâncias que até poderiam abrir caminho a situações complicadas, considerando as diferentes sensibilidades alimentadas, muitas vezes, por populismo, acusações ofensivas e mentes dominadas por radicalismos — que Rui Costa e João Noronha Lopes foram os mais votados e que vão discutir a segunda volta.
Será sempre fácil, já alguns dias passados do ato eleitoral, tirar conclusões precipitadas, mas serão poucas as que podem resistir como um menir à erosão de argumentos. Incontestável, porém, é que Rui Costa ficou mais perto da maioria absoluta que Noronha Lopes ficou de Rui Costa. Cada um, depois, pode espremer os números para que estes possam dizer-lhes o que mais interessa para alimentar diferentes narrativas.
De torturadores de números a quem padece de idadismo, de quem pensa que o Benfica, ou Portugal, é só Lisboa e arredores, a quem vive na bolha das redes sociais, de quem acreditou cegamente em sondagens a quem ficou cego com chegadas coreografadas com direito a foguetório, de quem sofre de soberba a quem sofre de ignorância, são muitos aqueles que lutam por ignorar a realidade da votação. Que, é preciso reforçar, se esgotou naquele dia.
Tanto Rui Costa como João Noronha Lopes, pelas declarações que produziram ainda no domingo, depois de conhecidos os resultados, coincidem, e bem, na ideia de que vão começar do zero, apesar dos diferentes estados de espírito. O primeiro disse que tentaria não perder quem nele votou e tentaria conquistar os outros, o segundo que não daria por adquirido nem por perdido qualquer voto. Não só é o mais prudente e racional como manifesta terem percebido, agora ou bem antes, isso pouco interessa, a complexidade do Benfica, as diferentes sensibilidades de sócios e adeptos.
Até ao dia em que os sócios voltarão a votar, agora para a decisão final, o Benfica jogará com V. Guimarães, no Minho, e Leverkusen, em casa. Há uma semana escrevi que, provavelmente, não haveria alguém que mudasse a intenção de voto pelos resultados recentes da equipa. Continuo a acreditar que acontecerá o mesmo. Já discordo de quem defendeu que os resultados da equipa pouca influência tiveram nos resultados da votação. Entendo que bastaria a Rui Costa outros e melhores resultados (talvez só no fim da última época) para vencer à primeira volta — é apenas uma convicção que ninguém poderá desmentir, nem, na verdade, poderei confirmar.
Para finalizar, o acesso e uso ilegítimo de dados pessoais de que se queixaram alguns sócios é um assunto muito sério que João Noronha Lopes deveria esclarecer melhor. Não tenho a menor dúvida sobre a integridade do candidato e de que está acima de qualquer suspeita, mas não lhe basta dizer que se trata de um não-assunto quando admitiu que «eventualmente algum dos voluntários pode ter passado isso a outra pessoa».

Nuno Paralvas, in a Bola 

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