Eurocenário
O Benfica chegava a Amesterdão com a certeza incómoda da obrigatoriedade de vencer. Não havia volta a dar, nem mais contas para fazer, no confronto com um histórico europeu e rival de outras eras, em que reinavam Eusébio e Cruyff. A reedição do duelo acontecia em condições de extrema fragilidade pontual de ambas as equipas.
Final
O onze escolhido por Mourinho recuperava, sem surpresas, o sistema de quatro defesas, mais rodado pelo treinador do Benfica, abdicando de alas de raiz em favor da superior consistência coletiva.
O período inicial deu um Benfica personalizado e agressivo na frente, onde Barreiro acrescentava presença, quer na profundidade, quer no apoio a Pavlidis. O desejado golo não demorou, com nova participação de Ríos e respetivo aproveitamento vistoso de Dahl, no seguimento de um canto. O Benfica embalou com o golo para alguns minutos em que ameaçou dobrar a vantagem, mas o Ajax não tendo nada a perder não demorou a reagir, sobressaltando a defesa portuguesa. A qualidade dos alas contrários e a dinâmica que traziam ao ataque era clara e a robustez e experiência de Weghorst pedia o máximo cuidado.
O Benfica ia para o intervalo em vantagem, mas com o jogo longe de estar controlado e, na altura, já se ia suspirando pela pausa. A segunda parte não começou melhor e embora o Benfica mantivesse a equipa subida, o Ajax ameaçaria marcar em duas jogadas consecutivas. O duplo susto passou, mas o receio e a insegurança com bola eram visíveis. Ao mesmo tempo, a falta de profundidade atacante empurrava a preocupação e o receio para o lado português. Com o decorrer dos minutos o Benfica viria finalmente a controlar melhor com bola o destino do jogo.
O lance capital acabaria por premiar muito justamente dois dos principais jogadores, Barreiro e Aursnes, unidades preciosas deste Benfica. Jogo de grande desgaste físico e emocional, mas também de insegurança associada ao caráter decisivo do jogo. Objetivo cumprido e com goleadores que não se medem aos palmos.
Sistema pontual
Benfica e Atlético reeditaram um saudoso clássico lisboeta em eliminatória da Taça de Portugal. O Benfica acabou por ganhar sem grande brilho, beneficiando de uma 2.ª parte mais dominadora. De positivo para o Benfica pouco houve a retirar deste jogo, exceção feita à surpresa que nos trouxe Rodrigo Rêgo, para se afirmar como um dos melhores em campo. Mas se a ideia fosse eventualmente transportar o sistema tático ensaiado no Restelo para Amsterdão, a dúvida estaria desfeita na 1.ª parte, tal o desacerto que se viu. Curiosamente, a fórmula tentada no Restelo acabou por valer como recurso com o Ajax, respondendo à entrada do segundo avançado adversário, Dolberg. No final, valeu o apuramento e a réplica alcantarense.
Mais uma festa
Na grande maioria dos casos, os nossos clubes lutam com dificuldades para subsistir. As infraestruturas são modestas e a capacidade de investimento reduzida, mas mesmo assim representando o espírito digno de um povo historicamente corajoso. A cada eliminatória da nossa Taça encontramos motivos para admirar o esforço e o valor daquilo que se faz nas divisões inferiores, mesmo em condições precárias. O que fizeram Atlético, Marinhense e Sintrense, mesmo perdendo, contrariando os nossos maiores clubes, é prova disso. Fafe, Caldas e Vila Meã foram, desta vez, os heróis principais, surpreendendo e continuando a dar vida ao sempre renovado carisma da nossa Taça.
Zeist
A visita-chave do Benfica a Amesterdão fez-me regressar à minha primeira experiência de treinador, enquanto assistente de Artur Jorge na nossa principal Seleção, vivia-se ainda a longínqua década de noventa. Nessa altura, o cargo de treinador de guarda-redes não era ainda algo muito assumido nem cuidado. Longe vai o tempo em que o treino para quem defendia a baliza se resumia a remates consecutivos sem fim, até que, finalmente, o keeper implorasse pela pausa.
Lembro-me que chegou, nessa altura, à FPF o anúncio da realização de um curso da UEFA para essa especialidade, em Zeist, o famoso complexo de treino da federação holandesa. Achei interessante e propus-me a participar na iniciativa, no sentido de poder ajudar os nossos guarda-redes, com um conhecimento reforçado, numa fase em que Vítor Baía era o titular. Éramos cerca de cinquenta candidatos de toda a Europa. Na apresentação dos inscritos, percebeu-se que eram todos antigos defensores das balizas, alguns deles famosos, com uma única exceção: eu.
Claro que fui alvo de alguma ironia, mas o ambiente criado foi divertido. Afinal, se o conhecimento prático dos antigos defesas das balizas tem evidente utilidade para um treinador, não deixa de ser verdade que, ao mesmo tempo, o saber bater os guarda-redes, arte dos avançados, também poderia ajudar.
CR7
Prossegue o debate sobre a titularidade de Cristiano Ronaldo na Seleção Nacional e, mais recentemente, criticam-se convívios do craque em ambientes políticos muito duvidosos. CR7 já admitiu publicamente não conseguir ver os noticiários. Talvez devesse, para conhecer os atores da atualidade política mundial e aquilo que vão fazendo, antes de os promover com a sua presença.
No meio desta agitação, ainda se encontra tempo para golos especiais, esta sim a principal e mais apurada qualidade do astro português. O golo marcado recentemente por Cristiano em movimento acrobático é mais um momento digno do seu imenso histórico. São estes momentos espetaculares que encantam os seguidores de Cristiano, capazes de baralhar, ou não, as convicções dos críticos, que o superatleta insiste em contrariar.
Rui Águas, in a Bola

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