quinta-feira, 27 de novembro de 2025

O TER DE GANHAR



 Eurocenário

O Benfica chegava a Amesterdão com a certeza incómoda da obrigatoriedade de vencer. Não havia volta a dar, nem mais contas para fazer, no confronto com um histórico europeu e rival de outras eras, em que reinavam Eusébio e Cruyff. A reedição do duelo acontecia em condições de extrema fragilidade pontual de ambas as equipas.
Não havendo espaço sequer para considerar um empate, era de uma verdadeira final que se tratava. Na antevisão ao jogo, Mourinho classificou a diferença entre o «querer ganhar» e o «ter que ganhar», esta última realidade bem mais ilustrativa da delicadeza e importância do momento.
Final
O onze escolhido por Mourinho recuperava, sem surpresas, o sistema de quatro defesas, mais rodado pelo treinador do Benfica, abdicando de alas de raiz em favor da superior consistência coletiva.
O período inicial deu um Benfica personalizado e agressivo na frente, onde Barreiro acrescentava presença, quer na profundidade, quer no apoio a Pavlidis. O desejado golo não demorou, com nova participação de Ríos e respetivo aproveitamento vistoso de Dahl, no seguimento de um canto. O Benfica embalou com o golo para alguns minutos em que ameaçou dobrar a vantagem, mas o Ajax não tendo nada a perder não demorou a reagir, sobressaltando a defesa portuguesa. A qualidade dos alas contrários e a dinâmica que traziam ao ataque era clara e a robustez e experiência de Weghorst pedia o máximo cuidado.
O Benfica ia para o intervalo em vantagem, mas com o jogo longe de estar controlado e, na altura, já se ia suspirando pela pausa. A segunda parte não começou melhor e embora o Benfica mantivesse a equipa subida, o Ajax ameaçaria marcar em duas jogadas consecutivas. O duplo susto passou, mas o receio e a insegurança com bola eram visíveis. Ao mesmo tempo, a falta de profundidade atacante empurrava a preocupação e o receio para o lado português. Com o decorrer dos minutos o Benfica viria finalmente a controlar melhor com bola o destino do jogo.
O lance capital acabaria por premiar muito justamente dois dos principais jogadores, Barreiro e Aursnes, unidades preciosas deste Benfica. Jogo de grande desgaste físico e emocional, mas também de insegurança associada ao caráter decisivo do jogo. Objetivo cumprido e com goleadores que não se medem aos palmos.
Sistema pontual
Benfica e Atlético reeditaram um saudoso clássico lisboeta em eliminatória da Taça de Portugal. O Benfica acabou por ganhar sem grande brilho, beneficiando de uma 2.ª parte mais dominadora. De positivo para o Benfica pouco houve a retirar deste jogo, exceção feita à surpresa que nos trouxe Rodrigo Rêgo, para se afirmar como um dos melhores em campo. Mas se a ideia fosse eventualmente transportar o sistema tático ensaiado no Restelo para Amsterdão, a dúvida estaria desfeita na 1.ª parte, tal o desacerto que se viu. Curiosamente, a fórmula tentada no Restelo acabou por valer como recurso com o Ajax, respondendo à entrada do segundo avançado adversário, Dolberg. No final, valeu o apuramento e a réplica alcantarense.
Mais uma festa
Na grande maioria dos casos, os nossos clubes lutam com dificuldades para subsistir. As infraestruturas são modestas e a capacidade de investimento reduzida, mas mesmo assim representando o espírito digno de um povo historicamente corajoso. A cada eliminatória da nossa Taça encontramos motivos para admirar o esforço e o valor daquilo que se faz nas divisões inferiores, mesmo em condições precárias. O que fizeram Atlético, Marinhense e Sintrense, mesmo perdendo, contrariando os nossos maiores clubes, é prova disso. Fafe, Caldas e Vila Meã foram, desta vez, os heróis principais, surpreendendo e continuando a dar vida ao sempre renovado carisma da nossa Taça.
Zeist
A visita-chave do Benfica a Amesterdão fez-me regressar à minha primeira experiência de treinador, enquanto assistente de Artur Jorge na nossa principal Seleção, vivia-se ainda a longínqua década de noventa. Nessa altura, o cargo de treinador de guarda-redes não era ainda algo muito assumido nem cuidado. Longe vai o tempo em que o treino para quem defendia a baliza se resumia a remates consecutivos sem fim, até que, finalmente, o keeper implorasse pela pausa.
Lembro-me que chegou, nessa altura, à FPF o anúncio da realização de um curso da UEFA para essa especialidade, em Zeist, o famoso complexo de treino da federação holandesa. Achei interessante e propus-me a participar na iniciativa, no sentido de poder ajudar os nossos guarda-redes, com um conhecimento reforçado, numa fase em que Vítor Baía era o titular. Éramos cerca de cinquenta candidatos de toda a Europa. Na apresentação dos inscritos, percebeu-se que eram todos antigos defensores das balizas, alguns deles famosos, com uma única exceção: eu.
Claro que fui alvo de alguma ironia, mas o ambiente criado foi divertido. Afinal, se o conhecimento prático dos antigos defesas das balizas tem evidente utilidade para um treinador, não deixa de ser verdade que, ao mesmo tempo, o saber bater os guarda-redes, arte dos avançados, também poderia ajudar.
CR7
Prossegue o debate sobre a titularidade de Cristiano Ronaldo na Seleção Nacional e, mais recentemente, criticam-se convívios do craque em ambientes políticos muito duvidosos. CR7 já admitiu publicamente não conseguir ver os noticiários. Talvez devesse, para conhecer os atores da atualidade política mundial e aquilo que vão fazendo, antes de os promover com a sua presença.
No meio desta agitação, ainda se encontra tempo para golos especiais, esta sim a principal e mais apurada qualidade do astro português. O golo marcado recentemente por Cristiano em movimento acrobático é mais um momento digno do seu imenso histórico. São estes momentos espetaculares que encantam os seguidores de Cristiano, capazes de baralhar, ou não, as convicções dos críticos, que o superatleta insiste em contrariar.
Rui Águas, in a Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário