"A centralização discute percentagens, mas o futuro é sobre crescimento. O Benfica tem uma vantagem estratégica única e não pode desperdiçá-la: é hora de aumentar o bolo, não apenas de disputar fatias.
Enquanto na cimeira de presidentes se discutem percentagens, a verdade é que pouco há para decidir. O modelo de distribuição está praticamente definido. Cerca de 5 por cento ficará para a Liga Centralização, 10 por cento para a Segunda Liga e o restante para a Primeira. E dentro da Primeira Liga o consenso aponta para uma fórmula clara: um terço dividido de forma igual por todos os clubes e dois terços atribuídos segundo critérios de classificação e impacto social. É um desenho sensato, mas não é aí que está o desafio. O Benfica não se pode perder na discussão das fatias. O que importa é aumentar o tamanho do bolo.
O Benfica tem, neste momento, uma vantagem estratégica que mais nenhum clube possui. Antes da centralização obrigatória entrar em vigor, pode negociar dois anos adicionais dos seus direitos televisivos. Esta oportunidade é irrepetível. Prolongar o contrato atual, com um crescimento meramente inflacionário, significaria abdicar de ambição. Os direitos audiovisuais são a segunda maior receita operacional do Benfica. Assumir que não podem crescer de forma relevante é aceitar que perderemos competitividade num contexto europeu que cresce entre sete e dez por cento ao ano. E sem uma estratégia que maximize esta oportunidade, o Benfica arrisca-se a ver, já nos próximos anos, adversários diretos na Europa ultrapassarem-no em capacidade de investimento, algo que mais cedo ou mais tarde se reflete sempre dentro de campo. O erro não está apenas na afirmação de que o Benfica não pode receber menos.
O erro está em não apresentar soluções que permitam receber mais. Enquanto uns discutem a chave, poucos se concentram no essencial: como criar valor novo. A centralização só será um sucesso se gerar mais receita para todos do que o modelo atual.
Como defendi no livro A Nossa Camisola, o modelo de subscrição tradicional está esgotado. Para combater a pirataria e ampliar o alcance do produto, o Benfica pode liderar uma mudança estrutural: tornar a BTV exclusiva de um operador e integrada no pacote base, sem custo adicional para o consumidor. A premissa é simples. Um milhão de pessoas mudaria de operador para ter acesso ao canal. Os operadores, por sua vez, pagam hoje cerca de 250 euros de custo de aquisição por cada novo cliente fidelizado. Esse valor existe, é mensurável e está incorporado no modelo comercial do setor. É através dele que o Benfica pode maximizar a sua receita.
Feitas as contas, atingir 150 milhões em dois anos não é um exercício de otimismo. É o valor que melhor traduz o potencial real de mercado do Benfica. Fechar abaixo desse patamar seria ficar aquém daquilo que o clube vale e daquilo que pode gerar.
Esta solução cria valor imediato, reforça a marca, melhora a acessibilidade e estabelece um modelo que pode inspirar a própria centralização. Mais do que esperar que a Liga encontre respostas, o Benfica tem condições para liderar e mostrar o caminho.
Convém lembrar que foi o Benfica, no passado, quem rompeu o monopólio da Olivedesportos, introduziu concorrência entre operadores e fez crescer o bolo total para os patamares atuais. O mercado mudou graças à coragem e visão estratégica do Benfica. Está na hora de voltar a liderar o processo.
Vencer em campo é essencial. Mas assegurar os meios para continuar a vencer nas próximas décadas é decisivo. O Benfica não pode ficar sentado à espera de milagres. É tempo de agir, inovar e liderar. Porque o futuro do futebol português não depende apenas de repartir melhor. Depende, sobretudo, de criar mais."
Mauro Xavier, on o Observador

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