sexta-feira, 27 de outubro de 2017

SVILAR VAI CONSTRUIR UM IMPÉRIO


A juventude é a fase embrionária de um talento. Nesse tempo de sonhos e ilusões define-se o rumo dos homens, primeiro por instinto e às vezes atrevimento inconsciente, depois pela disponibilidade em acumular informação, crescer e fortalecer a aprendizagem; antes como sinal precoce de uma vocação genética, depois como consolidação de armas que permitem resistir à tragédia e à glória efémera. No futebol, o talento juvenil é visto, em muitas ocasiões, como elemento volátil, de confirmação duvidosa. Tão depressa é uma fonte de inspiração que antecipa a expressão de génios como serve para lançar a dúvida e crucificar exageros; tende a alimentar a esperança mas, não raras vezes, funciona como anúncio do apocalipse. O guarda-redes sofre mais do que os outros porque a sua construção depende de elementos técnicos, táticos, físicos e psicológicos indissociáveis da evolução humana. O tempo é um velho amigo, porque traz ferramentas fundamentais ausentes nos primeiros passos.
A expressão total da grandeza do guardião do templo costuma ser feita aos poucos, até atingir a fronteira imaginária, entre os 25 e os 30 anos, quando completa os argumentos de uma tarefa interdita a menores. O passar dos anos acrescenta os valores adultos e imprescindíveis de maturidade, serenidade, liderança, estatuto e intimidação - e só então o puzzle se conclui, desde que não sejam danificadas as virtudes mais relevantes logo detetadas no ADN (instinto, ilusão, magia, coragem, compromisso…). Svilar é um fenómeno porque, aos 18 anos, já equilibra qualidades do adolescente que ainda é com as de um veterano; consegue ser expansionista sem ser extravagante; é candidato a protagonista mas não se diminui assumindo o papel de ator secundário; tem confiança insolente para se entregar a aventuras contínuas e exibicionistas mas reconhece as vantagens de se manter calmo ao fim de longos períodos como espectador.
O belga tem quase tudo do que é feito um mago das balizas: físico, elegância, carisma, coragem, concentração, técnica, inteligência, confiança, agilidade e reflexos... Raros foram os que assimilaram, em tão tenra idade, tantos princípios inerentes ao papel que lhes cabe numa potência. Svilar orienta-se pela eficácia em detrimento do adorno e da espetacularidade. É um adolescente precoce, com perfil de adulto, que vai atingir o auge mais cedo do que os outros. Longe de ser um projeto concluído, já possui qualidades que o levaram precocemente ao estatuto de enorme guarda-redes. Amadeo Carrizo (n. 1926), o argentino que revolucionou a função nos anos 50, pelo River Plate, disse com desassombro: "Um guarda-redes só se faz verdadeiramente depois de sofrer mil golos." Mesmo considerando o exagero, servem as palavras do velho general para percebermos que Svilar tem ainda muita estrada para andar.
Para o Benfica, o ideal seria repetir com o belga o que foi feito com Oblak (aos 18 anos estava no Olhanense) e Ederson (defendia o Ribeirão): emprestá-lo para rodar e cometer todos os erros de crescimento longe da Luz. Rui Vitória correu o risco e lançou um jovem com disco rígido incompleto. Face ao erro com o Man. United, anunciou desde logo que jogaria nas Aves, ao contrário do que fez com Bruno Varela, depois do falhanço no Bessa. A incoerência está à vista mas o treinador está obrigado, também, a decidir segundo as suas convicções - para Vitória há diferenças entre um bom guarda-redes, que desempenhou missão específica, e outro que, cometendo erro clamoroso, tem o perfil dos melhores do Mundo. José Mourinho deu uma achega: "Este miúdo é uma fera. O Benfica tem um guarda-redes top." Svilar passeia com a palavra 'classe' escrita em cada gesto e movimento. Devia esperar um pouco, é verdade, mas as circunstâncias anteciparam o processo: tem de começar já a construir o império como senhor das balizas encarnadas.
Empate de CR7
na luta com Messi
Para Valdano, de cada vez que Messi se constipa, CR7 é o melhor do Mundo
Cristiano acaba de cometer uma proeza extraordinária: igualar Messi na conquista dos prémios individuais mais importantes do futebol. O parcial de 5-5 em dez anos consecutivos não tem paralelo na história do futebol. O argentino andou sempre à frente e chegou a ter vantagem de 4-1, num cenário global, agora mais esbatido, ser o melhor de sempre. Um exagero que CR7 sublinha com este empate inacreditável.
Guarda-redes
no ponto certo
Benfica e FC Porto mudaram de guarda-redes praticamente ao mesmo tempo
Svilar encerra riscos por tenra idade e ausência de experiência, José Sá remete para a eventualidade de um problema onde havia solução (Casillas). Aos 24 anos, está no ponto para assumir a baliza portista, desde que seja essa (e é) a convicção do treinador. Sérgio Conceição optou com base em argumentos invisíveis do exterior. Nem por isso deixa de ser uma decisão menos legítima. Se é correta, o tempo dirá.
Dupla grosseria
de Rui Costa
Em Alvalade aconteceu um momento de arbitragem de todo lamentável
Rui Costa sentiu-se enganado por Gelson e transformou penálti claro em simulação do sportinguista, reagindo à imaginária ofensa com um cartão amarelo vergonhoso. O erro, apesar de grosseiro, é desculpável. Miserável foi manter a decisão vistas as imagens do VAR. Entre abdicar do quero, posso e mando e ser humilde, preferiu ser simplesmente ridículo. Não há tecnologia que valha à incompetência.
Rui Dias, in Record

OBS: E o primeiro golo do Sporting e o penalty do Rui Patrício não entram nesta equação porquê? É o que faz escrever com lentes verdes.

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