sábado, 7 de abril de 2018

A IMPORTÂNCIA DA CAPACIDADE DE ABSTRAÇÃO


Não era suposto ver-se o Benfica no 1.º lugar nesta altura do campeonato. Nem nesta altura, na verdade, nem em nenhuma altura. Era suposto ver a equipa do Benfica soçobrar, condicionada, como não poderia deixar de estar, perante a campanha de dissolução permanente concertada no Hotel Altis pelos altos (baixos) comandos da comunicação dos rivais e pelas, isso sim, preocupantes surtidas do Ministério Público ao Estádio da Luz. Independentemente de como o campeonato se venha a resolver, não deixa de ser notável a capacidade de abstração da equipa face ao ambiente supremo de hostilidades em torno do emblema tetracampeão. Por estas razões tão devastadoras para o ânimo geral, nunca serão suficientes as palavras de gratidão dos benfiquistas para os seus técnicos, capitães e jogadores que nos vêm entretendo, e frequentemente deliciando, com uma campanha à altura dos pergaminhos do Benfica dentro das quatro linhas do campo.

Esta noite é em Setúbal que o Benfica joga o seu destino. Se não respeitar o adversário, se não correr mais e se não lutar mais do que o adversário, dificilmente o Benfica sairá vencedor. Vêm estas generalidades a propósito da discussão sobre a utilização de Fejsa hoje com o Vitória Futebol Clube. O sérvio, como é do conhecimento geral, pode falhar o jogo seguinte – com o FC Porto no Estádio da Luz – no caso plausível de ver esta noite um cartão amarelo.
Há quem entenda que a Fejsa deveria ser poupada a deslocação ao Bonfim de modo a garantir a sua presença no próximo clássico. Discordo. O campeonato joga-se jornada a jornada e o jogo com o Vitória é, neste momento, mais importante do que a receção ao FC Porto. Não duvidando de que o Benfica, sem Fejsa e com muita aplicação, poderá vencer os seus jogos com Vitória e com o FC Porto – o Paços de Ferreira e o Belenenses, ambos sem Fejsa, já venceram este ano a equipa de Conceição… – seria uma desconsideração à equipa setubalense retirar esta noite o sérvio do onze titular do Benfica. E quem diz Fejsa, diz Jardel, que se encontra exatamente na mesma situação disciplinar. Carrega, Benfica. Carrega a sério, Benfica.
Dizem os aritméticos que o Sporting se despediu da luta pelo título em Braga e são capazes de ter alguma razão, tendo em conta a ânsia com que o presidente do clube vem reclamando palco num infindável cacharolete de afrontas, de vaticínios clínicos fatais e de desconsiderações múltiplas, não poupando nem criancinhas minhotas nem tradições do hemiciclo parlamentar nem os seus próprios jogadores. Tudo serve e servirá como fator de distração. Ei-lo que se faz ‘aparecer’ em infantis montagens fotográficas como responsável no momento de glória de Ronaldo em Turim para logo se fazer desaparecer como responsável nos momentos inglórios da sua equipa em Madrid. Triste e velhíssima cartilha a sua. A capacidade de abstração dos sócios e adeptos do Sporting perante isto não deixa de ser também notável.
Leonor Pinhão, in Record

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