"Em tempo de Black Friday, Sexta-feira Negra, quando todos procuram encontrar uma vantagem para si, é fundamental pensar naqueles para quem todos os dias são negros, não por eufemismo de um marketing global capaz de criar ondas desenfreadas de consumo, mas porque, verdadeiramente, não têm o suficiente para prover as suas necessidades mais básicas.
Do lado de quem tem mais, exacerba-se crescentemente aquilo a que poderíamos chamar uma 'sede de abundância'. Uma sede trágica porque sempre anseia e nunca se satisfaz, transformando o privilégio da abundância numa angústia de escassez. Neste mundo acelerado e global, precisamos sempre de mais e mais sem nunca nos bastarmos nem pararmos para reflectir. Queremos mais bens, queremos gastar mais energia, queremos o bem-estar de toda a humanidade e o equilíbrio do planeta. Isto significa que queremos, à sua vez, uma coisa e o seu contrário, mas temos de concordar que esta é uma equação com os termos desequilibrados e de resultado negativo.
Não existe culpa em fazer uma pequena extravagância, em esperar pelas oportunidades desde dia e multiplicar o dinheiro para comprar o mesmo com menos ou, as mais das vezes, mais com o mesmo. Mas é bem certo que há virtude em recordar os outros e despojarmo-nos de uma parte dos nossos bens materiais, por ínfima que seja, em prol dos que enfrentam diariamente, muitas vezes gerações a fio, a mais injusta das injustiças: a pobreza.
Por isso, passados os dias loucos da Black Friday, que agora dura semanas, acordemos na terça-feira com uma única vontade: dar!
Dê, porque esta terça-feira não é dia de querer, é dia de dar!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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