"O Barcelona só tinha vitórias e podia meter medo - mas este texto não é sobre elas
É a melhor equipa feminina do mundo, com a melhor jogadora do mundo, no país campeão do mundo. É número 1 do ranking da UEFA e defende o título de campeão europeu. Até quarta-feira, só tinha vitórias esta época (22 em 22 jogos). Décadas de evolução, aposta e formação no futebol feminino estão a produzir resultados imbatíveis para os lados da Catalunha.
Estatutos, títulos e números que podem assustar adversárias, impõem respeito, sobretudo admiração. Olhar para o Barcelona, para este domínio, e desfrutar de Aitana e companhia, é ver um rumo, é ter a certeza que isto funciona, sendo o isto apostar e dar condições às raparigas e mulheres para jogarem futebol.
E o Barcelona é onde essas raparigas e mulheres querem estar. A ganhar, a ser o ídolo de tanta gente, a liderar um movimento. Como também é o Barcelona que queremos ver - que o digam os adeptos que encheram o Seixal.
É verdade que o jogo já não contava para muita coisa. Tanto o Barça como o Benfica já estavam nos quartos de final da Liga dos Campeões (no caso das portuguesas pela primeira vez, conforme fizemos questão de enaltecer devidamente numa capa deste jornal). Mas o empate entre estas duas equipas vai muito além disso.
O Benfica, uma equipa muito mais recente, num país ainda a «anos-luz» do futebol feminino espanhol (citando a treinadora Filipa Patão), não conseguiu empatar só com as melhores do mundo. O que a equipa feminina do Benfica fez foi marcar 4 golos à equipa que ainda só tinha sofrido 4 golos (na época!) e mostrar que está a caminhar à velocidade da luz para um dia lá chegar.
E até podia ter ganho, não fosse aquele golo nos últimos segundos, que deixou as jogadoras e a equipa técnica das encarnadas visivelmente frustradas. Sim, frustradas por parar o Barcelona até aí imbatível - mas foi pouco, para o que queriam. Querer ganhar às melhores do mundo é querer, mais tarde, serem as melhores do mundo.
Portanto, o que o Benfica conseguiu não foi só um empate ou os 17 mil euros que ele vale. O Benfica mostrou que no futebol não há invencíveis e que poderemos sempre emocionar-nos quando o mais pequeno ganha ao grande. A frustração das benfiquistas é um sinal de crescimento impressionante. Não às vitórias morais, sim às vitórias-vitórias.
Portugal está agora no 5.º lugar do ranking da UEFA e poderá levar três equipas à Champions feminina no próximo ano. A evolução do Benfica é a evolução do futebol feminino português e quem está a ficar para trás neste caminho vai arrepender-se (se é que ainda não o fez).
Voltando a citar Filipa Patão, as exibições, o atrevimento e os já alguns resultados do Benfica feminino estão a tornar esta «a equipa que ninguém quer» defrontar. Não sei se será o caso, mas suspeito que esta já será, pelo menos, a equipa em que muitas raparigas e mulheres quereriam estar."
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