O Boavista-Benfica da sexta jornada da edição 2024/25 da Liga portuguesa deve ser contado com algum cuidado, porque se não for devidamente contextualizado pode levar a conclusões apressadas e erróneas, sob diversos prismas. Comecemos pelos Benfica, numa primeira pincelada, para dizer que Bruno Lage está a perceber o que Roger Schmidt, a páginas tantas, se recusou a ver: uma equipa desequilibrada como era a dos encarnados precisava de um melhor balanço a meio campo para poder movimentar-se mais harmoniosamente em todos os setores.
E o que é que fez Bruno Lage? Não mexeu no guarda-redes nem na defesa (para lá do que as lesões o obrigaram), deu nexo ao meio-campo, onde Florentino é a peça que ajuda mais os centrais, Aursnes é o elemento que faz a ligação entre setores, e Kokçu fica com a tarefa do apoio a Pavlidis, enquanto que Di María e Akturkoglu dão largura à equipa e apoiam por dentro cada vez que os laterais sobem, e Pavlidis não fica tão sozinho como estava.
Com este desenho, de repente, o Benfica foi capaz de sair a jogar de trás com maior segurança (embora contra adversários mais exigentes ainda tenha muito que apurar); tornou-se numa equipa mais compacta e solidária na recuperação da bola; e passou a ser capaz de ter presença na área, abdicando do futebol empastado de circulação anémica, que vinha a praticar no último ano e meio.
Está tudo bem no Benfica? Longe disso. Ainda há demasiados passes perdidos, especialmente no primeiro terço, e no derradeiro terço ainda não se vê a assertividade que transforme três quartos das oportunidades em golos. Mas não haverá ninguém quem diga que não está melhor, e que a tendência é de continuar a melhorar, assim Lage consiga incorporar Amdouni nas primeiras opções, e passe a contar com Arthur Cabral para momentos mais madrugadores do jogo. No mais, parece ir no bom caminho.
Quanto ao jogo do Bessa, onde nunca esteve em causa o vencedor, e apenas se questionou a dimensão da vitória encarnada, uma palavra de admiração para a arte de Akturkoglu, agitador, assistente, jogador de equipa, um verdadeiro achado; para o renascimento de Kokçu, que recuperou a alegria e assume a batuta, justificando tudo aquilo que Schmidt dele disse, e dele nunca conseguiu tirar; e para algumas dinâmicas coletivas que começam a aparecer, ainda longe do que o FC Porto apresenta (mas não muito), e já não tão longe (mais ainda bastante), do que o Sporting faz, o que só pode ser visto, para os escassos dias de trabalho de Lage, como um elogio.
No que respeita a táticas, o Benfica apostou num 4x3x3 que irá servir de base para outras aventuras, o que só prova que Bruno Lage anda à procura de recuperar o equilíbrio entre setores que o seu antecessor viu fugir-lhe como areia entre os dedos, e não nos devemos admirar se num futuro próximo virmos os encarnados em 4x1x3x2 ou em 4x4x2, tantos e tão díspares são os jogos que terá pela frente, entre Champions e I Liga. Já o Boavista, armou-se num 4x1x4x1 que pode ser transformado em tudo, fez das fraquezas forças, foi digno, mas nunca esteve perto de colocar em causa a vitória do Benfica.
Em resumo, mais um jogo para o Benfica recuperar confiança, num terreno onde, na época transata, começou a perder a possibilidade de revalidar o título nacional. E, atendendo ao momento delicado, do ponto de vista social, que o clube da Luz está a viver, não há nenhum bálsamo melhor e mais unificador, que as vitórias…
PsS Mais uma arbitragem vergonhosa talvez dois mis corruptos da atualidade, João Pinheiro e Tiago Mrtins.
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