sábado, 22 de novembro de 2025

EXIBIÇÃO E ATITUDE A ROÇAR A BOÇALIDADE



Acabou por ser um daqueles jogos de ‘risquinho ao meio’: na primeira metade vimos o Atlético a jogar como se estivesse na Tapadinha e contra um adversário da Liga 3; na segunda, o Benfica, depois de quatro alterações ao intervalo, impôs-se sem grande dificuldade, fruto de um onze mais rotinado e também porque, como era previsível, a equipa de Alcântara começou a sentir o desgaste físico. O resultado é justíssimo, com o toque adicional de termos assistido, durante 45 minutos, ao Atlético a tentar assumir o papel de tomba-gigantes. Não o conseguiu, mas tentou. Tentou muito, embora sem efeitos que se traduzissem no marcador.




O Benfica apresentou a novidade de iniciar o encontro com aquilo a que Mourinho prefere que se chame de três defesas (Tomás Araújo, Otamendi e António Silva) e um quarto homem bastante recuado (Barrenechea), mas entrou no Restelo como um pardalito de telhado, esvoaçando entre o Restelo e a Tapadinha, quando deveria ser a águia-real que, em tempos não muito distantes, já foi. Havia a atenuante de estar a jogar apenas com sete titulares habituais (os três centrais, mais Dedic, Barrenechea, Aursnes e Pavlidis). Ainda assim, os primeiros 45 minutos dos encarnados oscilaram entre o medíocre e o fraco, com poucas ocasiões de perigo e com Ivanovic e João Rego — sobretudo o primeiro — a desperdiçarem a oportunidade de impressionar José Mourinho.
O Atlético, porém, mostrou-se imune a essas fragilidades do adversário. Seguro a defender a baliza de Rodrigo Dias e destemido sempre que se aproximava de Samuel Soares, equilibrou a partida até ao intervalo e até dispôs de ligeira supremacia nos remates perigosos. Quem esperava que os alcantarenses estacionassem um autocarro de dois andares — ou dois mais pequenos — à frente da baliza percebeu rapidamente que não seria assim. O Atlético não se limitou a defender; procurou o golo (e esteve perto), consciente de que teria mais hipóteses enquanto houvesse forças para disputar cada lance frente a jogadores fisicamente muito superiores.
Se a intenção de José Mourinho era testar o sistema de três centrais num jogo teoricamente mais acessível, é provável que não tenha ficado satisfeito. Ao intervalo retirou Tomás Araújo, lançou Dahl e regressou à linha habitual de quatro defesas, reorganizando a equipa num 4x2x3x1. A culpa não era, evidentemente, de Tomás Araújo, muito longe disso. O que ficou claro, pela exibição da primeira parte, é que era necessário ‘sacudir’ a equipa. E Mourinho fez bem não só em abandonar o trio defensivo, como também em dispensar a presença simultânea de dois avançados clássicos.




Depois do intervalo, com Dahl, Barreiro, Ríos e Schjelderup em campo, o Benfica melhorou: teve mais bola, mais ritmo e mais velocidade. Ainda assim, até muito depois da hora de jogo, continuou a criar poucas oportunidades claras de golo. O Atlético, ressentindo-se da diferença de rotação, recuou cada vez mais, e tornou-se evidente que, mesmo com o Benfica longe do seu melhor nível, dificilmente conseguiria evitar o golo.
O marcador acabaria por mexer em dois lances de bola parada: canto de Aursnes, cabeceamento de Ríos, 0-1 (73’); penálti de Pavlidis, após falta sobre Barreiro, 0-2 (77’). O Atlético defendeu quase sempre muito bem a baliza de Rodrigo Dias, com uma tenacidade notável, falhando apenas nos lances de bola parada. O Benfica ainda dispôs de outro penálti para fazer o 3-0, mas Otamendi atirou para o lado direito de Rodrigo Dias e o guarda-redes, esticando-se até ao limite, defendeu o remate do campeão do mundo — o grande momento da noite para os alcantarenses.
Rogério Azevedo, in a Bola
Rodrigo Rêgo, 20 anos, estreou-se na equipa principal e deixou água na boca. Ríos estreou-se a marcar, abriu caminho à vitória e, no festejo do golo, começou a libertar-se das toneladas de pressão que carrega… ou seria do mau-olhado?
Samuel Soares (5) — Aos 2’ estava a voar para a esquerda depois de remate perigoso de Joãozinho ao lado do poste esquerdo, aos 4’ a sair da área para cortar um ataque adversário, aos 11’ agarrou um cabeceamento, aos 40’ atirou-se para a relva para travar bicicleta de Délcio, aos 43’ segurou a bola após canto. Ainda na primeira parte jogou duas vezes mal a bola com os pés. Foi quase espectador no segundo tempo.
O melhor em campo: Rodrigo Rêgo
Rodrigo Rêgo (6) — Bom pé esquerdo, explosivo na aplicação do drible e na mudança de velocidade, sempre com o dedo no gatilho pronto a disparar, tão irreverente e atrevido como algumas vezes precipitado e inocente na última decisão, só pode ficar feliz e orgulhoso pela estreia na equipa principal. Participou nos melhores lances da primeira parte. Jogou como ala esquerdo no primeiro tempo e extremo direito no segundo e aproveitou a oportunidade. Podem contar com ele. Foi agradável surpresa e dificilmente há benfiquista que não tenha ficado com água na boca e desejo de ver muito e mais do jovem de 20 anos. Sempre em modo ofensivo, a arrancar cruzamentos ou a fazer movimentos interiores, também foi competente a defender — recuperou a bola e foi receber passe de Schjelderup para depois entregá-la a Barreiro, no lance do penálti do segundo golo.
Tomás Araújo (5) — Com o veloz Délcio pela frente andou sempre em cuidados defensivos. Não apanhou grandes sustos, mas não pôde contribuir no ataque. Saiu ao intervalo quando Mourinho mudou o sistema tático.




Otamendi (5) — Talvez dos poucos que na primeira parte se incomodaram com a exibição da equipa — aos 44’ irritou-se com Samuel Soares pela demora de reposição de bola. Antes teve de aplicar-se várias vezes em cortes de cabeça na área, onde a bola chegou através de centros ou lançamentos laterais. Bom corte sobre Caleb à entrada da área aos 61’. Falhou penálti aos 90+2’ — atirou para a direita e guarda-redes defender.
António Silva (5) — Central pela esquerda na primeira parte não teve tanto trabalho como Tomás Araújo. Aos 31’ não conseguiu reagir a desvio de Barrenechea para marcar na primeira área. Sofreu penálti de Duarte Henriques (90+2’).
Dedic (5) — Não deu a profundidade que a equipa precisou, procurou muitos movimentos interiores. Aos 29’ quase marcou num disparo cruzado que Rodrigo Dias sentiu dificuldade em defender para canto. Mais confortável e participativo no ataque na segunda parte.
Aursnes (6) — Meteu a bola na cabeça de Ríos no primeiro golo. Mais influente na segunda parte, organizando e apressando a equipa recuperar a bola e a sair para o ataque.
Barrenechea (4) — Aos 7’ escorregou e permitiu remate de Caleb à entrada da área. Aos 18’, num livre à entrada da área, rematou contra a barreira. Procurado nas bolas paradas, desviou uma vez bem de cabeça para António Silva (31’). Mas a equipa precisou de intensidade e energia que não ofereceu. Saiu ao intervalo.
João Rego (3) — Aos 2’ perdeu a bola e Joãozinho rematou com perigo ao lado do poste esquerdo. Foi médio-interior esquerdo e não teve impacto positivo no jogo ofensivo da equipa. Saiu ao intervalo.
Pavlidis (6) — Andou sempre a farejar o golo que surgiu na marcação de penálti, num remate forte e rasteiro para a direita. Serviu um remate perigoso de Dedic (29’). Na confusão onde andou metido também ameaçou aos 58’.
Ivanovic (3) — Jogou no apoio a Pavlidis, por isso, mais móvel. Entre perdas de bolas e atrapalhações sucessivas, apenas um lance interessante aos 21’, quando arrancou com espaço e foi derrubado à entrada da área. Perdeu boa oportunidade, num canto e sozinho, quando rematou ao lado do poste esquerdo.
Leandro Barreiro (6) — Jogou ao lado de Pavlidis para pressionar a saída de bola e deu mais intensidade à equipa no momento defensivo. No ataque, ofereceu-se para combinações e deu velocidade à bola. Foi derrubado na área, no penálti que Pavlidis converteu.
Ríos (6) — Entrou ao intervalo e aos 46’ já estava a rematar cruzado, por cima da barra. Aos 57’ voltou a disparar, agora à entrada da área, também por cima. Deu mais músculo ao meio-campo. Foi à área para marcar (de cabeça) pela primeira vez pelo Benfica. No festejo, tentou libertar-se do peso da responsabilidade. Ou seria do mau-olhado?
Dahl (5) — Com pouco trabalho defensivo, cruzou duas vezes para a área e empurrou Schjelderup para o ataque.
Schjelderup (6) — Deu ao Benfica a capacidade de desequilibrar mais no um para um, no último terço e na área do Atlético. Participou no lance que acabou no penálti cometido sobre Barreiro. E só uma grande defesa de Rodrigo Dias impediu que pudesse festejar o golo, depois de boa arrancada e remate forte.
Henrique Araújo (-) — Entrou aos 79'. Sem oportunidade de deixar marca.
Nuno Paralvas, in a Bola

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