quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO

Ou o Porto ganha ou a Taça da Liga acaba, já!

Texto:

Aguardo tranquilamente a confirmação, a explicação ou até mesmo o desmentido da notícia que no início desta semana veio baralhar e muito as mentes benfiquistas, entre as quais incluo a minha própria mente.
Trata-se da notícia da venda de André Gomes a um empresário, Jorge Mendes, pelo valor de 15 milhões de euros. A pronto, presume-se.
Assim não vale, com o devido respeito. 
Não vale a pena prometerem-nos num dia que o futuro do Benfica será “made in” Benfica para noutro dia constatarmos com legítimo espanto que, no caso de André Gomes, será “made in Benfica”, isso sim, mas o futuro de um Liverpool, de um Mónaco de um City, isto para referir nomes de alguns dos clubes apontados como destino de André Gomes.
Outros como eu, ainda mais baralhados com a notícia e pessimistas por natureza, vêm já o futuro “made in Benfica” num qualquer rival.
Não discuto a verba propalada. 15 milhões de euros é a quantia exacta e a politicamente correcta para selar a operação, se é que a operação existe mesmo nos termos em que foi noticiada.
Foi por 15 milhões de euros que o Sporting vendeu Cristiano Ronaldo ao Manchester United e Cristiano Ronaldo era já uma estrela da Liga portuguesa quando foi para Inglaterra mudar de ares e fazer-se um fabuloso futebolista.
Ora André Gomes ainda não é uma estrela da Liga nacional, terá jogado esta temporada uns quatro ou cinco minutos, tempo suficiente para se fazer um enorme pé-de-vento sobre o atraso com que se iniciou o último FC Porto-Marítimo, mas tempo mais do que insuficiente para conferir a André Gomes o estatuto com que Cristiano Ronaldo chegou a Manchester.
Foi, portanto, um grande, um extraordinário negócio para o tesoureiro Benfica que, de uma penada, vê 40 milhões (Matic+Gomes) a entrar para a caixa e se os vê entrar é porque, certamente, faziam lá falta. E esse é um pormenor muito respeitável.
Acontece, perdoem-me a heresia, que não sou do Benfica nem por causa do Eusébio nem, muito menos, por causa do tesoureiro. Sou do Benfica porque sim.
Também não vou deixar de ser do Benfica por causa do André Gomes embora me custe vê-lo partir e me custe ainda mais sentir-me vagamente confunndida pela inconstância do discurso no que respeita à imperiosidade da chamada “formação”.
Julgo que, noutras circunstâncias, melhor dizendo, sem o “background” sonoro, tão recente que ainda estala nos ouvidos, do tal Benfica futuro e português, a saída de André Gomes causaria menos engulhos.
*
O último jogo, com o Gil Vicente para a Taça da Liga, serviu para ganhar (e é para isso que os jogos todos servem) e serviu também para lançar de uma assentada, no último quarto de hora, três jovens jogadores portugueses vindos da formação: João Cancelo, Hélder Costa e Bernardo Silva.
Entraram cheios de vontade e sem medo de discutir cada lance. O pessoal adorou.
*
Para além de outros atributos, Bernardo Silva tem um pé esquerdo que mais parece uma colher.
*
- Paulo, é FUNDAMENTAL dizeres que a Taça da Liga NÃO É PRIORITÁRIA!
Paulo disse. Não o critiquem. 
Mal acabou a renhidíssima partida com a equipa insular, o treinador vitorioso fez questão de acentuar perante o batalhão de jornalistas que a Taça da Liga não é competição de interesse maior para o emblema que traz cozido ao peito.
- Paulo, FOI À PORTO!
Ups.. Esta não era para dizer, mas disse-o com a mesma convicção de sempre. Critiquem-no se quiserem. Eu acho que não é caso para isso. Quem diz a verdade não merece castigo.
*
Ai a Taça da Liga!
Pobrezita, desgraçada logo à nascença, um mísero caneco que tem ao seu redor o ambiente espesso das grandes complicações.
Ou não tem sido sempre assim?
- Desta já estamos livres! – disse o presidente do FC Porto assim que, na edição de 2011/2012, saiu eliminado na meia-final com o Benfica no Estádio da Luz.
Lembram-se?
Na edição da 2012/2013 ainda foi pior, teve de levar com o calvário até à última gota e só se viu livre quando perdeu a final para o Sporting de Braga. 
É verdade que esteve quase a ver-se livre mais cedo mas os órgãos da justiça da entidade organizadora não foram na conversa do Vitória de Setúbal que reclamou, na secretaria, irregularidades cometidas pelo FC Porto na utilização indevida de jogadores.
Francamente, sadinos…
*
Temo, por amor ao espírito competitivo, que esta, a de 2013/2014, seja a última edição da Taça da Liga.
Aliás, analisando os factos mais recentes mais vale acabar com a aberração de uma vez por todas.
O Sporting, por exemplo, já anunciou com todas as letras que daqui para o futuro jogará com os seus juniores e com os seus juvenis na Taça da Liga caso não lhe seja atribuído, na secretaria, o direito de receber o Benfica no próximo dia 12 de Fevereiro, data aprazada para a meia-final da corrente edição.
Sem vontade de agourar e, muito menos, sem o menor empenho em desmerecer as legítimas aspirações dos nossos vizinhos da Segunda Circular, abundantemente expressas em comunicado oficial, julgo que nenhuma instância, desportiva ou civil, lhes deferirá a pretensão.
Fazer prova de intenção de dolo no atraso do início do jogo no Dragão é uma impossibilidade jurídica moderna. E ainda bem que é assim.
No passado, há mais de meio século, houve um árbitro que foi irradiado por ter consentido que um determinado jogo começasse com 5 minutos de atraso. É verdade, foi irradiado o Inocêncio Calabote ainda que tenha alegado em sua defesa que tinha o seu relógio acertado pelo relógio da Sé de Évora, cidade de onde era natural.
De nada lhe valeu.
Nos tempos modernos nada disto seria possível de acontecer. E mesmo que, com o recurso a tecnologias de ponta, houvesse quem, no túnel de acesso ao relvado, tivesse gravado uma hipotética conversa assim…
- Mota, faça o favor de acertar o teu relógio pelo relógio da Torre dos Clérigos!
- Ai que lá se vai mais um talho!
… Mesmo assim não conseguiria fazer valer o Sporting a sua reclamação para as instâncias competentes. E porquê? Porque a gravação da hipotética conversa não foi autorizada por nenhum juiz de toga.
*
Tudo isto somado concorre para a extinção pura e simples da dita Taça da Liga num futuro próximo, iminente. 
O Sporting, atrevo-me a antecipar em função do já exposto, jogará na próxima temporada com crianças, o que sendo adorável não é exequível em termos competitivos. E é, sem dúvida, uma forte machadada na importância da competição porque o Sporting é um grande.
Tendo em conta a desejável longevidade da Taça da Liga, esta situação extremada criada por Bruno de Carvalho deixa o Benfica numa posição extraordinariamente difícil visto que vai jogar ao Dragão contra o FC Porto, e não a Alvalade contra o Sporting, e a uma só “mão” a meia-final da corrente edição.
Cabe, portanto, ao Benfica, por portas travessas, decidir já no próximo dia 12 sobre o futuro da Taça da Liga.
Se conseguir bater o FC Porto em sua casa a contar para a Taça da Liga – proeza raramente atingível pelo Benfica quando se trata de jogos a contar para o campeonato – temos o caldo entornado e será o adeus da Taça da Liga ao calendário oficial de competições.
A única salvação para a Taça da Liga é esta:
Ou o FC Porto ganha o caneco ou a Taça da Liga acaba, já!
*
Faltam 15 dias para o FC Porto-Benfica da Taça da Liga. Faltam 15 dias para, de uma maneira geral, os sportinguistas fazerem as pazes com o FC Porto. Ou estarei a exagerar?
*
Benfica e FC Porto terão de jogar 8 vezes em Fevereiro. Se os dois rivais seguirem em frente na Taça de Portugal e na Liga Europa, o mês de Março será igualmente intenso. Já o Sporting tem outro figurino competitivo. Cabe-lhe realizar 14 jogos mas 14 jogos distribuídos pelos meses de Fevereiro, Março, Abril e Maio. E nenhum deles terá prolongamento, certamente.
É por esta e por outras que a presente Liga tem bastos motivos de interesse, não só práticos como teóricos.

texto de Leonor Pinhão

Sem comentários:

Enviar um comentário