sexta-feira, 24 de maio de 2019

BRUNO LAGE, UAU!


"De treinador 'miúdo' o fulgurante senhor! Que obra! Personalidade da época, como Sérgio foi há um ano. Proezas no trabalho de ambos!; ainda maior o de Bruno. Jamor: a gala. Vivà Taça!

Personalidade da época no futebol português: Bruno Lage. Indiscutível. Tal como Sérgio Conceição o foi há um ano. Não por, simplesmente, terem conduzido campeão nacional. Sim porque, para ambos, a maratona até ao título foi drástica oposição de simples. Arrancaram em circunstâncias dificílimas, puros berbicachos, conseguindo arrumar a casa e erguê-la, em duríssima escalada, até ao êxito dito impossível!
Sérgio entrou num FC Porto vindo do 3.º lugar - no soma e segue de nada vencer ao longo de 4 anos(!) - e financeiramente encostado à parede por (saudável) imposição da UEFA, tendo de se despedir de pedras preciosas (Rúben Neves, André Silva - mesmo Diogo Dalot e Layún) e limitar-se a uma aquisição: Vaná, saído do Feirense para guarda-redes suplente. Sérgio recuperou, muitíssimo valorizando!, quem estava emprestado (Ricardo Pereira - veio render bom dinheiro, transferido para o Leicester -, Sérgio Oliveira, Aboubakar, Marega..), deu superior dimensão a outros, vide Brahimi, e, injectando raça num futebol práfrentex, devolveu o FC Porto ao topo, de forma incontestável!
Proeza ainda maior, ainda mais impensável, a de Bruno Lage! Porque chegou no penúltimo dia da 1.ª volta, quando o Benfica estava KO: no 4.º lugar... (a 7 pontos do campeão) e sendo ele, Bruno, requisitado à equipa B em emergência de mero interino... Então frisei que o Benfica desperdiçara meio campeonato com calendário muito favorável...; a sua 2.ª volta seria terrível!: ir a Guimarães, a Alvalade, a Braga, ao Dragão! - mais Moreira de Cónegos e Vila do Conde, o que significa deslocar-se ao território de todas as 6 equipas que se classificaram do 2.º ao 7.ª lugares! Martírio à vista! Desde logo, para treinador jovem, chamado à pressão e ilustre desconhecido.
Bruno Lage teve aquilo que Luís Filipe Vieira acaba de dizer ele próprio ter tido (traduzo para coragem). Sim, gigantesca coragem! Ok, pouco a perder... Mas, caramba!, treinador miúdo (peço-lhe desculpa), num ápice virou quase tudo de pantanas! Drástica mudança de esquema táctico, criança João Félix como 2.º ponta de lança, Pizzi crescendo noutro modelo de jogo, confiança transmitida a Gabriel (atenção: injustíssimo o que tenho ouvido e lido sobre Rui Vitória ter desligado de Gabriel; foi Vitória quem muito insistiu nesta contratação, feita em última hora, no fecho de Agosto - e depressa a lançou no 1.º onze, só que Gabriel, mostrando ser potencial mais-valia, ressentia-se de não ter feito pré-época, precisava de tempo...). Mais: inesperada a espectacular recuperação de Samaris, progressivo lançamento de outras crianças (Florentino, Ferro), detonação do melhor Rafa...
A estreia incluiu sofrimento e genica atacante: na Luz, face ao Rio Ave, viragem de 0-2 para 4-2. Os 2 jogos que se seguiram, porque fora de casa, foram importantíssimos: 2-0 nos Açores, 1-0 em Guimarães. Daí partiu embalagem... trituradora!: na Luz, 5-1 ao Boavista; em Alvalade, 4-2 (grande exibição, quiçá a mais categórica); de imediato 10-0 (!) ao Nacional, 3-0 nas Aves e, em casa, 4-0 ao Chaves (26 golos nestes 5 jogos!). Seguiu-se o teste dos testes: 2-1 no Dragão - personalidade para reviravolta, pois o FC Porto marcou primeiro... -, absolutamente decisivo! (quase incrível salto para... 1.º lugar).
Escorregadela, na Luz - 2-2, frente ao Belenenses -, absurda, após 2-0, porque consequência da súbita rajada de estapafúrdios/colossais brindes de Odysseas e Rúben Dias (muitíssimo pior do que o 2-2 do FC Porto em Vila do Conde por erros... colectivos). E fio à meada logo categoricamente retomado em casa de Moreirense 5.º classificado (4-0).
Senhor Bruno Lage: 19 jogos, 18 vitórias (1 empate), 72 golos - e mais 9 pontos - face ao FC Porto no mesmo período), que obra! Exactamente isso: miúdoBruno Lage fulgurante a mostrar-se senhor! Também - e muito, tanto! - na diferença que impõe no público discurso. Oxalá consiga mantê-lo...
O que lhe correu mal (Taças nacionais e Frankfurt) e, sobretudo, a incógnita sobre o próxima futuro do Benfica e desde treinador... abordarei noutro dia.
(...)"

Santos Neves, in A Bola

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