sexta-feira, 25 de agosto de 2023

UMA RELAÇÃO DE AMOR

 


FC Porto e Banco BMG: uma relação de amor.

O Banco BMG patrocinou mais de 40 clubes no futebol brasileiro e esteve envolvido no escândalo Mensalão em 2005. Este foi um escândalo de compra de votos que ameaçou derrubar o governo de Lula da Silva.
Tal influência permitiu que o Banco BMG participasse diretamente em diversas negociações de jogadores com os clubes parceiros. Ricardo Guimarães, ex-presidente do Atlético-MG, vice-presidente do banco desde 1996, CEO entre 2004 e 2013 e atual membro do Conselho de Administração, criou o fundo BR Soccer em 2009, com registo na Comissão de Valores Mobiliários. Indiretamente passou a ter o controlo sobre o Coimbra Esporte Clube da terceira divisão de Minas Gerais. O clube é propriedade da empresa Vevent Empreendimentos e Participações, que por sua vez é detida em 99.95% pelo fundo BR Soccer.
O fundo BR Soccer chegou a ter uma carteira com mais de uma centena de jogadores em 2013. Quanto ao Coimbra Esporte Clube, chegou ao cúmulo de, em 2014, ter um valor de mercado em atletas superior a clubes como Flamengo e Palmeiras. Só que nenhum atleta jogava no clube.
Isto significa que um clube que apenas disputava o Campeonato Mineiro e a Taça Belo Horizonte conseguiu, em tempo recorde, a proeza de ter um ativo superior a clubes que disputavam o Brasileirão e competições internacionais.
No ano seguinte, em 2015, a FIFA vetou a participação de terceiros em direitos de jogadores e deixou de se poder adquirir e vender direitos de atletas. De modo a contornar a proibição de partilha de passes de jogadores por terceiros, o FC Porto e o Banco BMG, através do Coimbra Esporte Clube, começaram a fazer negociatas de jogadores de futebol.
E quem é o Presidente do Coimbra Esporte Clube?
Marcus Vinicius Fernandes Vieira, que é - por coincidência - sócio da Vevent, e foi - também por coincidência - diretor jurídico do Banco BMG. Como se isso não bastasse, este chegou a defender o Banco BMG como advogado em diversas ocasiões.
Como entra o FC Porto no universo BMG?
O ponto de partida foi o museu do clube, onde acabou de encaixar cerca de 8 milhões de euros através de um contrato de publicidade e naming, o que levaria Ricardo Guimarães a receber um valioso Dragão de Ouro em 2013, na categoria de Parceiro do Ano. Pinto da Costa e Ricardo Guimarães inauguraram o museu com pompa e circunstância.
Qual a razão pela qual o Banco BMG decidiu investir tanto dinheiro no FC Porto, se não tem qualquer atividade comercial em Portugal?
Vejamos o caso de Otávio. A transferência do jogador teve o cunho de Adelino Caldeira e Reinaldo Teles, como comprova o seu contrato. Um dos representantes do Banco BMG é o empresário Giuliano Bertolucci, que colocou no FC Porto jogadores como Éder Militão, Alex Telles, Felipe, Otávio, entre outros.
Isto leva a concluir que a prospecção do FC Porto no mercado brasileiro é feita em conluio com o Banco BMG/Giuliano Bertolucci.
Desde que existe o FC Porto B e até ao final de 2018, foram contratados, pelo menos, 23 jogadores a clubes brasileiros. E desses, quantos chegaram à equipa principal até esse ano? Um. Otávio. Uma mão lava a outra. O Banco BMG paga por patrocínios ao FC Porto e este compra jogadores do catálogo do Banco BMG.
Para que não restem dúvidas:
• 2012-13: Diogo Mateus, Víctor Luís, Anderson Santos, Guilherme Lopes, Sebá (via Cruzeiro), Dellatorre (via Desportivo Brasil/Traffic).
• 2014-15: Diego Carlos (via Desportivo Brasil fundado pela Traffic), Otávio, Roniel (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport), Anderson Dim.
• 2015-16: Rodrigo Soares (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport), Maurício (via Portimonense/Teodoro), Wellington Nascimento (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport), Ronan, Enrick Santos, Gleison (via Portimonense/Teodoro).
• 2016-17: Inácio (via Portimonense/Teodoro), Galeno (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport).
• 2017-18: Luizão, Danúbio (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport), Anderson Canhoto.
• 2018-19: Diego Landis (via Desportivo Brasil fundado pela Traffic), Emerson Souza e Ewerton Pereira (via Portimonense/Teodoro).
O que é feito destes jogadores?
- Guilherme Lopes, a título de exemplo, jogou um minuto na Segunda Liga e acabou a carreira aos 24 anos.
- Enrick Santos, infelizmente, ainda teve menos sucesso terminando a carreira prematuramente aos 20 anos de idade.
- Anderson Canhoto teve mais sorte e quando voltou ao Brasil foi jogar na quarta divisão.
- Anderson Dim seguiu viagem para Freamunde e depois para o Coimbra MG. Entretanto mudou de profissão.
- Ronan, depois de 2 grandes jogos pelo Porto B, passou pelo Tombense, Nova Iguaçu, Santa Cruz e Natal e Cabrofiense. Não participou sequer em 10 jogos nestes "grandes" clubes.
- Danúbio pertence atualmente ao Carajás, tendo passado por colossos como Maranhão e Tapajós.
- Ewerton Pereira, que chegou ao FC Porto em 1 de julho de 2018, voltou para o Portimonense em 24 de julho do mesmo mês, por empréstimo. Em janeiro de 2019 terminou o empréstimo, tendo ido posteriormente para o Japão. Entretanto andou a passear-se entre o FC Porto e o Portimonense em empréstimos e transferências que estão em investigação criminal.
Portanto, existem jogadores que vêm passar férias a Portugal com tudo pago, numa autêntica lavandaria, e depois voltam para o Brasil para se dedicarem à pesca.
Haverá algum banco no mundo que patrocine clubes de futebol em países onde não exerça atividade e negoceie passes de jogadores em grande número, à exceção do Banco BMG? Quais as contrapartidas, sabendo que não há almoços grátis?
É normal um banco ter um acordo com um clube onde diz, e citamos, «toda e qualquer negociação envolvendo possíveis reforços para os portugueses no Brasil tem de passar pelo BMG»?
Podemos colocar o Banco BMG ao lado da Gestifute e Doyen, por exemplo?
Estas são perguntas às quais gostaríamos de ter respostas, e, para quem tanto pugna pela verdade desportiva, certamente que não haverá problema em esclarecer estas questões.
Não é necessário responder já, nós continuaremos aqui e não temos pressa.

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