Há uns meses falei com Stefan Reinartz, antigo médio treinado por Roger Schmidt no Bayer Leverkusen, que me contou como o atual técnico do Benfica chegou à Noiva Eterna e mudou por completo a abordagem dos jogadores à forma como pressionavam o adversário. Nunca me saiu da cabeça esta frase: «Era algo totalmente diferente, disruptivo. Fazíamos jogos de 4 para 7 em que os 4 não só tinham de roubar a bola em cinco segundos como fazê-lo e ainda marcar! Tudo começou rapidamente a funcionar, chegávamos ao golo nos primeiros minutos.»
É para mim, por isso, inexplicável que o principal componente do modelo de Schmidt, mesmo com peças diferentes das do ano passado, seja precisamente o que está a falhar rotundamente. Voltou a acontecer diante do Estoril, na Taça da Liga, e novamente perante três centrais.
Há uma bizarra distância entre os que saem à pressão (reparem que não disse «os que pressionam») e o meio-campo, e a defesa está em permanente dúvida se sobe ou não para perto dos médios, porque a probabilidade de ser exposta num jogo partido é grande. Esta é a regra básica: se vais, vais com todos. Schmidt lamentou-o várias vezes esta época: «Our rest defence was not good tonight.» O posicionamento defensivo no momento da perda não era o indicado para reagir bem. É isso o que é rest defence. E é treino.
Depois, com bola, a falta de capacidade de tomar decisões acertadas também surpreende. Os encarnados deixam-se pressionar com sucesso por qualquer adversário que o saiba fazer minimante. E já isso terá de ser recrutamento ou a escolha dos jogadores certos. Aconteceu na terceira época nos farmacêuticos. Terá sido antecipado na Luz por demasiadas mudanças estruturais?
Escolher onze não é fácil, sobretudo quando os jogadores são menos versáteis. Kokçu quer jogar como Pirlo, mas o turco não tem Gattuso, Ambrosini e Seedorf à sua frente. Está sempre a meio-caminho de algo ou alguém quando não tem a bola. Quando a tem, pode fazer a diferença, porém precisa de espaço porque não é De Bruyne, que vê o que mais ninguém consegue. João Neves é um jovem espantoso, com uma dinâmica incrível, que executa mais rápido que pensa. Nem sempre bem, o que é normal, dada a idade. Florentino pressiona como poucos as linhas de passe, mas não corre de um lado ao outro como o miúdo. Numa equipa que não sabe pressionar, apesar de tudo, faz sentido que continue no banco?
Na frente, Di María alterna genialidade com decisões que penalizam os colegas. Rafa condiciona tudo, modelo e esquema. Sem ele, poderia haver um 4x3x3 a proteger Kokçu, e talvez até extremos a garantir largura. Muito mais do que entrega. João Mário garante pausa, um jogo mais pensado, mas falta-lhe rasgo no 1x1. Para o 9, é preciso esperar por Marcos Leonardo e perceber.
Schmidt precisa de boas decisões: suas e dos seus jogadores. O que é, mais ou menos, o mesmo. O Benfica melhorou, mas não se resolveu. Está a tempo.
Luís Mateus in a Bola
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