"O regresso de Bruno Lage ao Benfica, discutido e questionado ao pormenor tal como tudo na nossa atualidade, é uma aposta já ganha pelo seu presidente, Rui Costa.
Resistindo ao populismo dos nomes, que, qual leilão, foram sendo lançados na praça, a escolha de Lage obedeceu a alguns princípios que se vêm confirmando decisivos. Escolher alguém que conhecesse bem o clube e o nosso campeonato era, desde logo, fundamental. O facto de não haver tempo a perder com transições e adaptações de quem aterra num novo meio e tem que perguntar tudo era outra óbvia condicionante com a época já em andamento. Finalmente, e condição essencial, escolher alguém com reconhecida competência, que o passado no clube e o seu trajeto seguinte comprovam.
Sou do tempo em que tudo o que vinha de fora era considerado melhor. Os treinadores eram só um dos muitos exemplos dessa época inibida. A nossa tradicional humildade foi durando sem progresso, até que, pelo menos no futebol, foi interrompida com estrondo e efeito imediato por José Mourinho no contexto europeu e também por Manuel José em terras africanas. Com o contributo de muitos outros colegas, entre os quais o professor Jesualdo Ferreira, a atualidade mostra um cenário bem diferente do que tivemos, com a capacidade dos treinadores portugueses amplamente reconhecida onde quer que exerçam esta função tão interessante quanto complexa.
Voltando a hoje e à nossa terra, poucas vezes uma pausa para as seleções terá sido tão inoportuna para o Benfica, ao contrário dos seus rivais que, claramente, suspiravam por ela. Não bastasse a paragem definida, no caso benfiquista ainda foi antecipada, obra de mais um nevoeiro inconveniente mas previsível, que alguém com responsabilidade tarda em evitar. Será desta?
A continuidade é como se imagina uma condição obrigatória para qualquer equipa chegar ao melhor rendimento, ainda mais quando se procura consolidar uma nova metodologia de treino e ideias recém-chegadas. A verdade é que os jogadores estão sempre mais recetivos depois do sucesso. A rentabilização plena de um jogo europeu ganho com raro brilho não acontecerá no imediato, mas esta grande jornada europeia fica. Num contexto competitivo atual que sabemos bem mais difícil do que no passado, a vitoria sobre o Atlético de Madrid como foi conseguida, faz sonhar mesmo os mais racionais e recordar outros tempos felizes.
Tal como os trabalhadores nas empresas ou os alunos nas escolas, os jogadores elevam o seu rendimento se forem bem ensinados e se o ambiente for saudável. É o que agora se verifica.
Honras da casa
Évora é uma cidade realmente linda e histórica, tendo como clube mais representativo o Lusitano, que já o era pelos anos 50, então na I Divisão portuguesa. No último domingo aconteceu ir ao campo Estrela, estádio do Lusitano, assistir ao jogo do clube no campeonato de Portugal, competição na qual percebi poder lutar pela promoção. Para além dos encantos de Évora, alguém me alertou para um médio ofensivo do clube, que me disseram de excelente qualidade técnica e que me despertou a curiosidade.
Foi uma tarde agradável, o tal médio correspondeu amplamente às expectativas que lá me levaram e o Lusitano ganhou e bem. Este quadro seria o bastante para uma bem passada tarde de domingo, mas acabou por ter algo mais que me surpreendeu pela diferença e me faz pensar voltar. Futebol à parte, as inscrições de fair play e boas-vindas, bem visíveis nos muros que circundam o recinto, não podiam ser mais honradas pelos adeptos locais. Claro que o assobio, a boca para o banco adversário e a impaciência com o árbitro, fazem parte, ou não estaríamos a falar de bola. A diferença fez-se então em dois momentos muito especiais e para mim surpreendentes.
No primeiro, já na segunda parte, o guarda-redes adversário, acabado de ser expulso por derrube, viu-se confortado de pé pelos aplausos dos adeptos da casa à sua saída. Após o final do jogo, no momento em que a equipa visitante se dirigia aos balneários, o público presente repetiu a simpatia anterior, aplaudindo fortemente o grupo forasteiro, como prova de respeito pelo esforço. Falta dizer que me asseguraram ser este um comportamento tradicional que não depende de ganhar ou perder. Excelente exemplo. Grande Lusitano!"
Rui Águas, in a Bola
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